POLÍTICA E RELIGIÃO NO TEMPO DE JESUS
A ansiosa espera pelo messias libertador reflete a opressão a que o povo judeu estava submetido, sob o domínio romano. Depois da morte de Herodes I (73 a.C.-4 a.C.), rei vassalo de Roma que não gozava de legitimidade junto à população, a Palestina foi dividida entre três de seus filhos: Arquelau, Filipe e Herodes Antipas. A Galiléia, onde Jesus vivia, coube ao último, responsável pela decapitação de João Batista.
Arquelau, rei da Judéia e Samaria, foi substituído pelo procurador romano Pôncio Pilatos, sob cujo mandato Jesus Cristo foi crucificado. Mas o sumo sacerdote do templo de Jerusalém, Caifás, tinha grande influência no governo. Apoiava-se no Sinédrio, conselho de 71 membros formado por altos sacerdotes, anciãos das famílias judias mais ilustres e doutores da Lei.
Vários grupos moviam-se na cena política. No alto da pirâmide social estavam os saduceus — a elite sacerdotal e os grandes proprietários de terras. Eram judeus conservadores que se alinham ao texto da Lei, tal como aparece nas Escrituras, e colaboravam com o dominador romano.
Logo abaixo, vinham os fariseus — elementos do baixo clero, pequenos comerciantes e artesãos. Eram hostis à presença romana, mas sua oposição era apenas passiva. Em todas as questões da vida cotidiana, cumpriam zelosamente a Lei e as tradições orais acumuladas ao longo dos séculos. Em confronto com o templo de Jerusalém, o centro de sua expressão eram as sinagogas, presentes nos menores lugarejos.
Saído dos fariseus, o grupo dos zelotas era formado por camponeses e outros membros das camadas mais pobres, esmagadas pelos impostos. Muito religiosos, eram nacionalistas radicais. Queriam expulsar pelas armas os romanos e instituir um Estado onde Deus fosse o único rei, representado pelo messias, descendente de Davi. Considerado agitador e assassino pela tradição cristã, Barrabás foi um líder zelota.
Entre os apóstolos de Jesus, dois devem ter sido zelotas: Simão e Judas Iscariotes. Também Pedro parece ter simpatizado com eles. O nome Iscariotes pode significar que Judas fosse da cidade de Kariot, foco da ação zelota, ou viria da expressão aramaica Ish Kariot, que quer dizer "o homem que leva o punhal". Sua traição a Jesus pode ser interpretada como um ato resultante de divergência política: enquanto a ação dos zelotas se voltava contra o dominador estrangeiro, a pregação de Jesus visava a própria estrutura social da Palestina.
Texto de José Tadeu Arantes extraido e adaptado da revista "Super Interessante"edição 4 de janeiro de 1988,por Leopoldo Costa.
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