IGUARIAS INDÍGENAS NA MESA DOS JESUÍTAS
Não seria força de expressão dizer que os jesuítas comeram cobras e lagartos quando chegaram ao Brasil Colônia
Bois, vacas, galinhas não existiam no Brasil recém-descoberto. Foram trazidos por Martim Afonso de Sousa, em 1532, e demorou muito tempo até a sua criação se espalhar pelo país. Por isso, quando a Companhia de Jesus foi trazida pela Coroa portuguesa, em 1549, os jesuítas que adentravam a nova terra para catequizar os índios, plantavam hortas perto das igrejas e dos colégios que fundavam. Como só verduras não bastassem, tiveram de se adaptar à comida local consumida pelos índios. As cartas que os jesuítas escreviam, hoje documentos históricos, relatam os hábitos alimentares aos quais se viram obrigados a se acostumar. O arroz, trazido da metrópole, era misturado à mandioca local; produtos nativos como abacaxis, mangabas, maracujás, aves de caça, porcos-do-mato, peixes, mariscos e crustáceos também foram incorporados. Mas uma comida mais esquisita surgiu quando os jesuítas entraram nas florestas em busca das aldeias indígenas. Como escreveu José de Anchieta, em "Minhas Cartas", coletânea de seus manuscritos: "Os macacos em quantidade infinita são de quatro castas, muito boas todas para se comer, com freqüência os experimentamos, alimento muito bom até para os doentes". Em seus relatos consta também o tatu, que descreve como sendo "de sabor bastante agradável". De "aspecto feio, mas muito bom para se comer", era o tamanduá. Entram ainda na lista onças fêmeas e jacarés. Sobre estes, diz que "suas carnes são próprias para se comer. Cheiram a almíscar...". Curioso também era como obtinham a banha para cozinhar: os índios iguaraguás a extraíam do peixe-boi, também muito bom para se comer, segundo o beato. Em 1560, José de Anchieta falava de "certos bichos roliços e compridos que viviam nas taquaras", que os índios comiam assados e torrados. Eram chamados de rahû.
Com mais requinte que a comida dos índios, ainda constavam do cardápio dos portugueses gafanhotos torrados, tanajuras, cobras fritas, caramujos. Pelo jeito, essa comida selvagem era um deleite para os padres da Companhia de Jesus.
Texto de Guta Chaves publicado na revista "História Atual" ano II, edição 19 de maio de 2005. Adaptado e ilustrada para ser postado por Leopoldo Costa
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