CARURU, UM PRATO AFRO-INDÍGENA
Caruru |
O prato caruru tem uma história de vaivém que começa no Brasil, viaja para a África e volta a nosso país com nova roupagem. Relatos mostram como o caruru, de sua origem indígena, se tornou hoje uma receita com maior influência afro. A palavra "caruru", indígena, designava uma erva usada com fins medicinais e alimentícios, como descreve o médico do conde de Nassau, Guilherme Piso, que viveu em Pernambuco de 1638 a 1644. Ele informa, em sua "História Natural", que "come-se este bredo (caruru) como legume e cozinha-se em lugar de espinafre...".
Em visita ao Daomé (atual Benin), na África, em 1797, o padre Vicente Ferreira Pires comeu um prato que chamou de caruru. Ele esclareceu: "caruru de galinha, que vem a ser com as nossas ervas, porém muito ralas, e com azeite-de-dendê, que eles usam para tudo". Em seu relato revelou também que nosso caruru já possuía nessa altura influência afro, pois levava dendê, palmeira de origem africana que no Brasil tem o nome de dendezeiro. Na Amazônia, em 1820, Von Martius participou de uma refeição indígena, próximo ao rio Madeira, em que os nativos comiam "um manjar de castanhas socadas com uma erva parecida com o espinafre, o caruru-açu". O relato lembra a versão original, citada por Piso.
O caruru brasileiro histórico era um guisado esmagado de ervas, que servia para acompanhar outra comida, carne ou peixe, com algumas semelhanças com o caruru encontrado na África ocidental. Hoje, o caruru é prato mais africano que indígena - o quiabo, a pimenta-malagueta, o camarão seco e o dendê vieram da África.
Receita: Caruru de Daomé
Doure, em 1/2 xícara de azeite-de-dendê, 1 cebola grande picada e 2 dentes de alho picados. Adicione 1 kg de quiabo cortado em pedaços de 1 cm, suco de 1/2 limão e 1 litro de caldo de galinha. Em uma panela à parte, aqueça 1/2 xícara de dendê e frite 1 frango picado até dourar, temperado com sal, pimenta, cebola e alho picados e reserve. Quando o quiabo estiver macio, tempere com sal e pimenta-malagueta a gosto. Adicione acelga, bertália, almeirão, mostarda e espinafre, rasgados grosseiramente. Deixe em fogo baixo até que o quiabo comece a se desmanchar. Se necessário, adicione um pouco mais de caldo. Junte os pedaços de frango e sirva em uma gamela de madeira. Rendimento: 6 porções.
Receita adaptada e executada pela chef Heloísa Bacellar, da Escola- Atelier Gourmand, de São Paulo.
Texto de Guta Chaves publicado na revista "História Atual" ano II, edição 20 de junho de 2005. Adaptado e ilustrada para ser postado por Leopoldo Costa
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