ALHEIRAS, CONTRA A INQUISIÇÃO
Um dos pratos mais característicos da cozinha lusitana, particularmente de Trás-os-Montes, são as alheiras, embutidos de pão umedecido e vários tipos de carne. As mais famosas são as de Mirandela, pequena cidade da região do Alto Douro, no vale do rio Tua. Povoado desde a construção de sua muralha pelo rei D. Dinis, em 1291, esse burgo medieval abrigava originalmente, como muitos outros de Portugal, mouros e judeus. Por obstáculo religioso, eles não comiam carne de porco e, por isso, nos fumeiros de seus fogões não se viam as tradicionais lingüiças suínas dependuradas em varais.
Até o século XVI, eles quase não eram perturbados em crenças e hábitos, mas D. João III trouxe para o reino a terrível mácula do Santo Ofício da Inquisição, perseguidora cruel dos que não rezavam pela cartilha do papa. Obrigados a converter-se ao cristianismo, os judeus se viram forçados a adotar os hábitos alimentares dos cristãos, passando a consumir os embutidos de porco: mas, como só se tratava de disfarçar, penduravam em suas casas lingüiças enchidas com pão velho umedecido e carnes de animais não vetados pela sua religião secreta. Como ninguém é de ferro, os embutidos passaram a ser temperados com alho e a ter carnes de vaca, de patos, de perdizes etc., e a ser chamados de alheiras. Com o tempo, o consumo desse pitéu cripto-judaico se generalizou na região trasmontana, e a carne de porco, com o passar do séculos, voltou a fazer parte dos ingredientes.
A RECEITA
Nele, introduzir as carnes desfiadas, reduzindo-as até ficar uma pasta, em seguida metida em tripas, que, depois de amarradas, ficam três dias penduradas sobre o fumeiro do fogão a lenha ou outro meio de defumação.
Para servir, aquecer as alheiras em água fervente e levá-las à mesa acompanhadas de legumes cozidos ou outro contorno ao gosto.
Receita executada pelo restaurante Casa Portuguesa, em São Paulo.
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