VAQUEIRO DE MARAJÓ
A ilha de Marajó oferece, pela sua topografia e vegetação, condições excelentes ao desenvolvimento da criação. De topografia quase plana e resultante do acúmulo das aluviões do grande rio, Marajó apresenta solo sedimentário, rico de detritos orgânicos e de fertilidade notável.
Na parte oeste ostenta exuberante mata de igapó, enquanto imensas campinas, abandantes de magníficas pastagens, dominam a parte oriental. São nestes campos extensíssimos, inundáveis durante o inverno (época das chuvas), que se desenvolve a criação determinada, principalmente pela excelência das gramíneas. Contrastando com os "mondongos", depressões lacustres, encontram-se esparsos pelas campinas os "tesos", tratos de terra que sobressaem do nível das águas durante as enchentes. Os tesos são, às vezes, aproveitados para a construção das habitações das fazendas. As casas são construídas em cima de esteios de acapu (Vouacapoua americana, AUBL.), ficando suspensas do solo, acima do nível máximo das inundações. Antes de os campos ficarem alagados, o gado é recolhido às "marombas", estrados elevados sobre estacas onde o rebanho passa o período das chuvas, alimentando-se com a canarana, gramínea de grande porte, nativa na ilha.
O gado de Marajó é produto de longa mestiçagem. O primeiro rebanho, oriundo de Portugal, foi no século XVII introduzido na ilha pelos colonizadores, sofrendo a partir desta data inúmeros cruzamentos com búfalo, importado da índia e principalmente com a raça zebu, também indiana. Desde 1930 os fazendeiros marajoaras mais progressistas estão "zebuando"o rebanho para a sua melhoria.
A criação de búfalos em Marajó constitui recurso econômico da ilha, pois, como é sabido, este bovídeo, que tão bem se adaptou ao seu clima, apresenta vantagens sobre outros tipos de gado marajoaras, não Só pela excelência da carne como, sobretudo, pelo peso, maior que o do boi comum. Marajó conta atualmente com um rebanho de 600.000 reses, distribuído pelas suas 880 fazendas de criação. O gado é destinado exclusivamente ao corte, abastecendo a cidade de Belém, para onde é exportado em embarcações próprias, sendo também exportado para o Amazonas, Acre e Guianas.
Os elementos caboclo, mulato e negro constituem maioria da população vaqueira de Marajó, entrando o branco com um coeficiente reduzido. O tipo étnico característico do peão de Majaró é o caboclo, mestiço de branco e índio, com predominância deste último sangue. A vida do vaqueiro de Marajó está intimamente ligada à vida da fazenda, trabalhando unicamente para o fazendeiro, do qual recebe, além de salário, casa e alimentação.
Na sua faina diária, o vaqueiro usa vestimenta sóbria, composta de camisa e calça de pano claro, que lhe permite liberdade de movimentos e defesa contra o clima quente e úmido. Seu chapéu (que vemos na ilustração) é feito de palha, de trançado muito unido, de abas largas e planas, tendo a copa achatada e forrada. O espaço entre o forro e a copa é cheia de folhas secas, como medida de defesa contra a ação dos raios solares e como impermeabilizante à água da chuva. No período das cheias o vaqueiro serve-se do boi como montaria ("boi-cavalo" ou "boi-de-sela") para atravessar os alagados, o que constitui nota pitoresca dos costumes marajoaras.
Por LÚCIO DE CASTRO SOARES originalmente publicado in RBG - Ano 2, n. 1. O texto acima foi extraído do livro 'TIPOS E ASPECTOS DO BRASIL', IBGE, Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica, Rio de Janeiro, 1975, p. 65-66. Digitado e adaptado para ser postado por Leopoldo Costa. (Ilustração de Percy Lau inserida no livro.)
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