A PROPOSITO DE PERÚS (Mantida a ortografia original do texto de 1903)
É crença geral que o primeiro perú comido em França foi por occasião das núpcias de Carlos IX, em 1570.
É um erro.
O primeiro perú comido em França foi em 1558, á mesa de Lourenço de Maugiron, conde de Montléans, barão de Ampuis.
E este perú, ou antes estes perús, — porque eram tres — foram vendidos a Lourenço de Maugiron, por um antepassado de M. Casimiro Perier, ex-presidente da Reppublica, o qual habitava em Cremieux, aldeiasinha de Viennois, em que os Maugirons eram então muito poderosos.
Claudio Perier, pai do grande Casimiro Perier e antepassado do presidente da Reppublica tinha desposado Maria Carlota Paschal, cuja família era originaria de Crèmieux. Foi um ascendente de Maria Carlota Paschal que vendeu etes tres perús a Lourenço de Maugiron, por trezentas libras. Se se calcular quanto valem estas trezentas libras em nossa época, póde-se ter uma idea da enormissima carestia dos perús em 1558.
Crèmieux ainda hoje é celebre por causa de seus perús, tão celebre que sò é conhecida pela criação destes animaes e porque seus proprios habitantes têm nome em um circuito de 20 leguas, em redor de perús de Crèmieux.
De que modo se póde saber esta historia de perús de 1558?
Um colleccionador de raridades possue um rccibo da trezentas libras por tres perús, passado a Lourenço de Maugiron por Paschoal, antepassado da tataravó de M. Casimiro Périer.
Felizmente, desde então, os perús diminuíram de preço.
É mesmo possível que seu valor tenha diminuído, como todas as outras cousas neste mundo, pela degenerescencia.
É a triste contingencia do que é vivo debaixo do sol.
Em todo o caso já se podia avaliar da importancia da fortuna do individuo pela possibilidade da compra de um perú.
Quanto mais perús pudesse comprar esse individuo mais rico seria elle.
Texto sem identificação de autoria, publicado no semanário "O Sertanejo", Barretos SP, datado de 8 de fevereiro de 1903. Foi mantida a ortografia original. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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