IMPORTÂNCIA DO COCO PARA A CULINÁRIA E CULTURA DO BRASIL


Antropólogo Raul Lody faz resgate histórico da importância do coco para a culinária e cultura do Brasil

Nativo da Ásia, ele dá sabor tropical a pratos doces e salgados e seu uso faz parte da identidade brasileira

Os coqueiros que embelezam e parecem parte da vegetação nativa do litoral brasileiro foram trazidos do Sudeste Asiático, onde o coco é cultuado como o fruto do paraíso. Em terras brasileiras, ele não só se adaptou como passou a fazer parte da cultura local. Cocada, biscoito, balas, broas, bolos, moquecas. Ele está presente em grande variedade de pratos doces e salgados da gastronomia brasileira, como mostra o antropólogo Raul Lody no livro Coco - Comida, cultura e patrimônio, da Editora Senac São Paulo. Na obra, ele dedica capítulos para falar da origem do fruto, os usos na culinária brasileira, a relação dele com festas populares e utilização no artesanato.

Do fruto se aproveita tudo. A polpa é usada em doces, o leite que se extrai é ingrediente para o preparo de moquecas e outras delícias. A água tornou-se refresco natural dos mais cobiçados não só nas praias, como também em qualquer centro urbano brasileiro, onde não há nenhum coqueiro por perto. Até mesmo a casca é aproveitada, para confecção de cuias, cumbucas e cabaças. “Tantas e muitas outras propriedades vão nascer do coco e servir para receitas e muitos outros usos culinários, estéticos, artesanais. Os prazeres do coco só estão começando, pois temos de comer sua carne in natura e continuar nesse exercício de tropicalização”, escreve o autor.

Moquecas, vatapás e outros pratos típicos da Bahia ganham sabor com o leite de coco. O fruto também integra receitas com camarões, bacalhau e outros peixes. Pode ser usado ainda na massa da tapioca, iguaria muito difundida no Nordeste. “A tapioqueira é, sem dúvida, uma grande difusora da comida de coco: a tapioca tradicional tem na sua receita o coco ralado, embora se também se faça tapioca apenas com a goma”, lembra o autor. Segundo ele, embora esteja presente nas culinária nordestina, o fruto é uma iguaria disseminada e apreciada de norte a sul. O autor ressalta que as receitas com coco representam em sabor e estética a imagem do paraíso.

O livro retoma a importância do ingrediente na cozinha e mostra também como ele está presente na cultura e no imaginário brasileiro. O autor demonstra que, ao falar sobre a formação da identidade do povo, a importância do coco já havia sido lembrada por outros pensadores. “Gilberto Freyre, na construção do seu olhar e sentimento tropicológico, sempre valorizou o coco-da-índia presente nos cardápios identitários do Nordeste, bem como de outras regiões, pois o fruto tem função amplíssima na gastronomia, na saúde e na cosmetologia”, afirma.

Não se sabe ao certo como o coco veio para o Brasil. Pode ter chegado trazido ao litoral por correntes marítimas. “Ele dura muito tempo em bom estado de conservação. Então pode ter vindo pelo mar”, diz Raul. Outra teoria é que tenha sido trazido por navegadores portugueses nos séculos 15 e 16, durante as grandes navegações. Na época, tanto usado como alimento quanto as fibras da carapaça eram usadas para tecer as cordas dos navios. “O coco estava completamente integrado à atividade econômica das navegações”, pontua Raul.

O coqueiro é visto por orientais como a árvore do paraíso, uma vez que oferece ao homem tudo o que ele precisa: tanto o fruto quanto a palmeira têm diversas utilidades, desde o consumo na alimentação até usos artesanais e na confecção de objetos. Uma corrente de botânicos defende que o coco tem origem no Sudeste Asiático e nas ilhas da Polinésia. Mas há também teorias de que o coqueiro poderia já estar na América, em especial no Caribe, antes da chegada de Cristóvão Colombo à região. “O certo é que o coco se espalhou pelo mundo. Em países como a Filipinas e Malásia, ele é como o feijão é para nós. No Ocidente, certamente o uso do fruto no Brasil se destaca, porque integra inúmeras receitas”, diz.

Texto de Márcia Maria Cruz publicado no "Estado de Minas de 13 de janeiro de 2013. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa. 


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