BARRETOS - A PECUÁRIA E A MODERNA TECNOLOGIA DOS FRIGORIFICOS


Na unidade I você viu que Barretos pertencia ao circuito comercial de gado. Este consistia na cria do gado nas regiões de Mato Grosso, sul de Goiás e Triângulo Mineiro. O gado era trazido até Barretos, engordado nas invernadas e depois revendido para localidades consumidoras.


No final do século XIX, o negócio da Pecuária já havia crescido grandiosamente, atraindo populações e muitos negociantes de gado vindos de Minas Gerais. Foi por essa época que começaram a surgir os matadouros, pois há passagens no livro “Barretos de Outrora”, de Osório Rocha que indicam a existência em 1896 do “Matadouro Municipal de Barretos”, que tinha a função de abastecer o mercado local e às vezes o da região com carne fresca. O boi engordado também era vendido vivo para outras localidades, como as cidades que cresciam em número de consumidores devido ao plantio do café. Esse boi era levado a pé pelas estradas e também pelas ferrovias de outras cidades da região.

Já no começo do século XX, Barretos era o maior produtor de bovino gordo da região, enchendo seu território de pastagens. Esse fato atraiu a atenção de negociantes muito ricos, alguns da capital. Foi o caso de Antônio de Almeida Prado, que enxergando em Barretos uma cidade estratégica no negócio da carne, instalou aqui em 1913 o primeiro frigorífico do Brasil.

A refrigeração da carne nos frigoríficos era uma tecnologia nova, a qual impedia que a carne estragasse depressa, valorizada devido às ideias higienistas do século XX. Antes disso, as carnes dos bois abatidos nos matadouros não eram conservadas por métodos muito higiênicos e estragavam rápido, o que causava doenças nos consumidores. Um dos modos de se conservar a carne era salgando-a e secando ao sol, essas eram chamadas “carnes de sol” ou “charque” (atual “carne seca”), método empregado pelos matadouros e pelas chamadas charqueadas. Antônio Prado foi prefeito da cidade de São Paulo e era membro da elite, sua família estava envolvida em variados negócios, incluindo a criação de gado, a cafeicultura, bancos, indústrias, importação e exportação. Diga-se de passagem, o capital cafeeiro esteve diretamente relacionado à industrialização do país, principalmente a partir da década de 1930. Portanto, este também foi direcionado para a construção do frigorífico.

“Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais” e “Companhia Frigorífica e Pastoril"


Não eram apenas os donos de frigoríficos que poderiam sair lucrando com este negócio, mas também os donos de empresas que fizessem o transporte dessa carne frigorificada ou mesmo do boi. Foi pensando nisso que a “Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais” implantou  em 1903, no antigo porto “João Gonçalves” à beira do Rio Grande, um vapor destinado a transportar pessoas e boiadas. A partir daí, o porto passou a ser conhecido como “Porto Antônio Prado” em homenagem ao mesmo Antônio Prado que instalaria o Frigorífico em 1913, mas por que? Porque ele também era o diretor da Companhia Paulista responsável pelo prolongamento da linha férrea de Bebedouro a Barretos, inaugurada em 1909.

Estando pronto o esquema de transporte, iniciaram-se as negociações para instalação do frigorífico. A câmara municipal de Barretos já havia cedido a exploração de um frigorífico na cidade também para a “Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais”, direito este transferido para a “Companhia Frigorífica e Pastoril”. No mesmo ano eles começaram a construção do parque industrial, implantando-o na fazenda Pitangueiras. Assim utilizavam a água do córrego Pitangueiras. O frigorífico estava do lado do bairro “Outro Mundo” em Barretos e foi inaugurado em 1913.

Foram instaladas máquinas de última geração, trazidas da Europa, trouxeram alguns profissionais dos Estados Unidos e da Argentina, já experimentados no serviço e adquiriram pastagens para invernar o gado que serviria de matéria-prima ao frigorífico. Já em 1914, foram exportadas 1,5 toneladas de carne, sendo que o destino era o comércio internacional, interestadual, intermunicipal e municipal.

Já para a elite local, era conveniente ajudar na instalação do frigorífico, pois este seria mais um comprador importante dos bois invernados nas fazendas da região. Além disso, esta nova tecnologia era uma representante da “modernidade” que poderia colaborar na modernização da cidade, gerando impostos, empregos e aumentando a popularidade dos políticos envolvidos no negócio. Isso explica o empenho dos políticos locais em ganhar a concorrência deste empreendimento com Bebedouro, que também esteve interessada.

Não era porque se instalava o método de frigorífico que os antigos matadouros deixaram de utilizar o método do charque. A própria “Companhia Frigorífica e Pastoril” também utilizava-se deste método. Assim, em 1924 foi instalada em pequenos barracões na cidade a “Charqueada Minerva”, e em 1927 a “Charqueada Bandeirante”. Só na década de 1940, os dois tornaram-se frigoríficos e na metade da década de 1950 o “Matadouro Industrial Minerva” e o Frigorífico Bandeirante figuravam como matadouros industriais de médio porte, aumentando a capacidade da cidade em absorver um maior número de gados.








Texto de Karla de Oliveira Armani, Priscila Ventura Trucullo, Roseli Aparecida Tineli e Sueli de Cássia Tosta Fernandes, publicado no livro "Descobrindo Barretos (1854-2012)", Liverpool Editora, 2012, excertos pag. 223-225. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa. 

0 Response to "BARRETOS - A PECUÁRIA E A MODERNA TECNOLOGIA DOS FRIGORIFICOS"

Post a Comment

Iklan Atas Artikel

Iklan Tengah Artikel 1

Iklan Tengah Artikel 2

Iklan Bawah Artikel