A ASCENSÃO DA DIETA ANTIESNOBE
Pagar mais caro por comidas orgânicas e frescas ao invés de industrializadas nem sempre compensa,
Ondas de comportamento migram do primeiro mundo ao Brasil com anos de atraso. Quando lá fora passaram a cobrar por sacos plásticos descartáveis em supermercados, nem se falava nisso por aqui.
O mesmo acontece com a guinada pró-orgânicos. O movimento começou a pegar embalo uns 20 anos atrás nos países mais ricos, onde já faz uma década que fazem sucesso feiras de orgânicos e mercados naturebas como o Whole Foods. Marcas de produtos orgânicos e a cozinha “farm-to-table” (da fazenda à mesa) caíram no “mainstream”.
No Brasil, só agora esse movimento vem tomando força. Isso, graças ao afinco de pequenos fazendeiros, a novas marcas de prestígio, como os chocolates baianos Amma e a linha Retratos do Gosto, e a chefs que brigam para conscientizar o público, como José Barattino, do Emiliano.
Já no primeiro mundo, começo a notar muita gente dando marcha-ré, parcialmente uma reação à recessão. Sim, orgânicos fazem bem à saúde e comprá-los nos dá a sensação de dever cumprido, mas a verdade é que custam muito mais caro.
Neste mês, a “Time” estampou na capa mosaico de frutas e verduras congeladas, chamando para reportagem sobre “a dieta antiesnobe”. O médico Mehmet Oz bateu contra o elitismo gastronômico:
“Nutricionalmente, há pouca diferença entre o espinafre da feira orgânica e um modesto bloco de espinafre saído do congelador (do supermercado)”.
Em uma tabela, comparou versões comuns de azeite, atum, chocolate etc. e seus pares “gourmets” e orgânicos. Que lado ganhou? Notou, por exemplo, que ovos de granja industrial são “boa fonte de proteína e vitamina B –e uma barganha”. Ovos de galinhas caipiras? “Caridosos, mas muito mais caros”, diz, sentenciando: “um ovo é um ovo”.
Duro? Sim. Há verdades que vão contra aquilo pelo que torcemos.
Orgânico ainda é para ricos, assim como mais vale um saco de mirtilo congelado em três segundos, usando alta tecnologia, do que caríssimas bolinhas azuis importadas do Chile, supostamente frescas.
Texto de Alexandra Forbes publicado no caderno "Comida" da "Folha de S. Paulo" de 26 de dezembro de 2012. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
Ondas de comportamento migram do primeiro mundo ao Brasil com anos de atraso. Quando lá fora passaram a cobrar por sacos plásticos descartáveis em supermercados, nem se falava nisso por aqui.
O mesmo acontece com a guinada pró-orgânicos. O movimento começou a pegar embalo uns 20 anos atrás nos países mais ricos, onde já faz uma década que fazem sucesso feiras de orgânicos e mercados naturebas como o Whole Foods. Marcas de produtos orgânicos e a cozinha “farm-to-table” (da fazenda à mesa) caíram no “mainstream”.
No Brasil, só agora esse movimento vem tomando força. Isso, graças ao afinco de pequenos fazendeiros, a novas marcas de prestígio, como os chocolates baianos Amma e a linha Retratos do Gosto, e a chefs que brigam para conscientizar o público, como José Barattino, do Emiliano.
Já no primeiro mundo, começo a notar muita gente dando marcha-ré, parcialmente uma reação à recessão. Sim, orgânicos fazem bem à saúde e comprá-los nos dá a sensação de dever cumprido, mas a verdade é que custam muito mais caro.
Neste mês, a “Time” estampou na capa mosaico de frutas e verduras congeladas, chamando para reportagem sobre “a dieta antiesnobe”. O médico Mehmet Oz bateu contra o elitismo gastronômico:
“Nutricionalmente, há pouca diferença entre o espinafre da feira orgânica e um modesto bloco de espinafre saído do congelador (do supermercado)”.
Em uma tabela, comparou versões comuns de azeite, atum, chocolate etc. e seus pares “gourmets” e orgânicos. Que lado ganhou? Notou, por exemplo, que ovos de granja industrial são “boa fonte de proteína e vitamina B –e uma barganha”. Ovos de galinhas caipiras? “Caridosos, mas muito mais caros”, diz, sentenciando: “um ovo é um ovo”.
Duro? Sim. Há verdades que vão contra aquilo pelo que torcemos.
Orgânico ainda é para ricos, assim como mais vale um saco de mirtilo congelado em três segundos, usando alta tecnologia, do que caríssimas bolinhas azuis importadas do Chile, supostamente frescas.
Texto de Alexandra Forbes publicado no caderno "Comida" da "Folha de S. Paulo" de 26 de dezembro de 2012. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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