DELÍCIAS EM HOMENAGEM A SÃO COSME E SÃO DAMIÃO
Dia de São Cosme e São Damião é de homenagens religiosas e de fartura. Além dos tradicionais saquinhos de pratos da culinária africana, como o caruru e o abará, ganham espaço na mesa dos brasileiros.
Os irmãos passaram a ser perseguidos porque acreditava-se que eles curavam pacientes com a fé em Deus e os ensinamentos da medicina. Acusados de feitiçaria, eles sofreram vários atentados até que foram mortos degolados. A lenda espírita conta que os pequenos príncipes gêmeos tinham o poder de trazer sorte às pessoas. Mas, quando recebiam as solicitações, pediam em troca doces e brinquedos.
De acordo com mãe Marinalva, na umbanda, Cosme e Damião são erês, orixás crianças obedientes às mães d’água e às entidades mais antigas. “São crianças traquinas que adoram doces e refrigerantes”, conta. Tradicionalmente, nas festas para os irmãos santos realizadas na Bahia, é montada uma farta mesa com doces, caruru, xinxim de galinha, vatapá, milho branco, feijão-fradinho, feijão-preto, farofa, acarajé, abará, banana-da-terra frita e roletes de cana. “Essas comidas na África são servidas às crianças por serem mais fáceis de comer”, explica a religiosa.
A preparação da comida deve acontecer no mesmo dia e o caruru, prato principal, é feito com até 10 mil quiabos. A primeira porção é colocada aos pés dos santos e outras sete são servidas a sete meninos com no máximo 7 anos. “O sete é o número do criador. Por isso se veem tantas oferendas com ele”, justifica mãe Marinalva. Os garotos escolhidos devem saborear a receita juntos e com as mãos. Só depois desse ritual é que os convidados poderão comer e participar da celebração.
Na umbanda, o caruru é preparado com quiabo, amendoim, castanha-do-pará, azeite de dendê e camarão defumado. No candomblé, leva também frango. “É uma comida nutritiva que era muito usada para alimentar as crianças doentes”, conta pai Adaildo. Segundo ele, o prato tapeia a fome, uma vez que, com poucos ingredientes, é possível fazer um caruru.
O mês inteiro
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Preparo do caruru |
Em muitos terreiros brasilienses, no entanto, a festa não ocorre mais em 27 de setembro. Segundo os pais de santo, como muita gente entrega mimos nesse dia, eles resolveram deixar a comemoração para 12 de outubro, data de Nossa Senhora Aparecida e também das crianças. “As pessoas doam os doces e nós chamamos as crianças. Teve ano que vieram mais de 500. É uma alegria, uma beleza”, anima-se mãe Marinalva. Pai Adaildo faz a festa completa, com direito a comida baiana e muitas guloseimas. “As crianças adoram e comem tudo, de verdade”, orgulha-se.
Texto de Rebeca Ramos publicado no "Jornal do Commécio" edição de final de semana (28 a 30 de setembro de 2012), com o título de "Delícias de todas as crenças". Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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