DELÍCIAS EM HOMENAGEM A SÃO COSME E SÃO DAMIÃO


Dia de São Cosme e São Damião é de homenagens religiosas e de fartura. Além dos tradicionais saquinhos de  pratos da culinária africana, como o caruru e o abará, ganham espaço na mesa dos brasileiros.

Há um dia de setembro muito especial para as crianças. Eufóricas, elas correm pelas ruas, batem nas portas dos vizinhos procurando saber se vai ter doação de doces. A data, porém, também tem importância para os religiosos. No dia 27, eles comemoraram o Dia de São Cosme e São Damião, irmãos gêmeos médicos que viveram no século quatro. Os fiéis fazem pedidos e, por conta das graças alcançadas, passam a dar balas, bolos e doces aos pequenos. Na umbanda e no candomblé, além das guloseimas, meninos e meninas saboreiam pratos da tradição religiosa africana, como o caruru, à base de quiabo, e o vatapá, pasta preparada com camarão e castanhas.
Os irmãos passaram a ser perseguidos porque acreditava-se que eles curavam pacientes com a fé em Deus e os ensinamentos da medicina. Acusados de feitiçaria, eles sofreram vários atentados até que foram mortos degolados. A lenda espírita conta que os pequenos príncipes gêmeos tinham o poder de trazer sorte às pessoas. Mas, quando recebiam as solicitações, pediam em troca doces e brinquedos.
A economista Léa de Oliveira distribui as guloseimas há mais de 25 anos. Ela conta que, aos 7, passou a ter fortes crises de bronquite e a mãe, católica, resolveu fazer a promessa aos santos. “Nunca mais tive crise e, desde então, não parei mais de dar os doces”, recorda. As duas juntam o dinheiro e compram as guloseimas. Nos pacotes, pirulitos, chicletes, pipoca e tudo mais de que as crianças gostam. “Todo dia 27 pela manhã, eu faço a oferenda. Entrego em uma creche. Antes, nós dávamos às crianças que brincavam na rua, mas hoje não as encontramos mais”, lamenta.
De acordo com mãe Marinalva, na umbanda, Cosme e Damião são erês, orixás crianças obedientes às mães d’água e às entidades mais antigas. “São crianças traquinas que adoram doces e refrigerantes”, conta. Tradicionalmente, nas festas para os irmãos santos realizadas na Bahia, é montada uma farta mesa com doces, caruru, xinxim de galinha, vatapá, milho branco, feijão-fradinho, feijão-preto, farofa, acarajé, abará, banana-da-terra frita e roletes de cana. “Essas comidas na África são servidas às crianças por serem mais fáceis de comer”, explica a religiosa.
A preparação da comida deve acontecer no mesmo dia e o caruru, prato principal, é feito com até 10 mil quiabos. A primeira porção é colocada aos pés dos santos e outras sete são servidas a sete meninos com no máximo 7 anos. “O sete é o número do criador. Por isso se veem tantas oferendas com ele”, justifica mãe Marinalva. Os garotos escolhidos devem saborear a receita juntos e com as mãos. Só depois desse ritual é que os convidados poderão comer e participar da celebração.
Na umbanda, o caruru é preparado com quiabo, amendoim, castanha-do-pará, azeite de dendê e camarão defumado. No candomblé, leva também frango. “É uma comida nutritiva que era muito usada para alimentar as crianças doentes”, conta pai Adaildo. Segundo ele, o prato tapeia a fome, uma vez que, com poucos ingredientes, é possível fazer um caruru.

O mês inteiro

Preparo do caruru
Em alguns lugares, a festa não costuma ter os pratos, pois as crianças não gostam muito. “Às vezes, até a mãe não deixa o filho comer. Por isso sirvo apenas os doces”, relata mãe Marinalva. Entre os mais típicos estão maria-mole, doce de amendoim, de abóbora e de batata-doce, além do suspiro e da jujuba. Na Bahia, a vontade de agradar aos irmão gêmeos é tanta que, durante todo o mês de setembro, é possível encontrar potinhos de caruru sendo doados a moradores e turistas.
Em muitos terreiros brasilienses, no entanto, a festa não ocorre mais em 27 de setembro. Segundo os pais de santo, como muita gente entrega mimos nesse dia, eles resolveram deixar a comemoração para 12 de outubro, data de Nossa Senhora Aparecida e também das crianças. “As pessoas doam os doces e nós chamamos as crianças. Teve ano que vieram mais de 500. É uma alegria, uma beleza”, anima-se mãe Marinalva. Pai Adaildo faz a festa completa, com direito a comida baiana e muitas guloseimas. “As crianças adoram e comem tudo, de verdade”, orgulha-se.

Texto de Rebeca Ramos publicado no "Jornal do Commécio" edição de final de semana (28 a 30 de setembro de 2012), com o título de "Delícias de todas as crenças". Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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