AQUECIMENTO GLOBAL DEIXARÁ A COMIDA MAIS CARA


Estudo indica que aumento dos desastres climáticos, como secas e inundações, levará à perda de safras e refletirá no preço dos alimentos básicos.

Aquecimento global
Um estudo divulgado na semana passada mostra o tamanho do ronco no estômago na humanidade que os fenômenos climáticos desencadeados pelo aquecimento global vão causar até 2030. Segundo a ONG inglesa Oxfam, o aumento de secas e inundações provocado pelas mudanças climáticas será responsável por parte considerável do aumento de até mais de 100% em alguns produtos.
As principais ameaças, segundo o relatório “Clima extremo, preços extremos: o custo de alimentar um mundo em aquecimento”, são relativas ao mercado global de milho, trigo e arroz. “Mais de 80% da exportação de grãos do mundo vêm de cinco países  e boa parte dela é controlada por quatro grandes companhias. Os Estados Unidos são o maior exportador de milho, grãos de soja e trigo”, diz um trecho do relatório da ONG. O documento chama a atenção para o fato de que a grave crise de secas em terras americanas este ano provocou aumento de 10% no preço global dos alimentos, segundo cálculos da Agência da ONU para Alimentos e Agricultura (FAO).
Calculando cenários que levam em conta a repetição de grandes crises climáticas em cada continente desde a década de 1980, a Oxfam chegou à conclusão, então, de que o preço do milho pode ficar até 177% mais caro em 2030. O impacto maior seria, como sempre, nos mais pobres, o que aumentaria o número de famintos no mundo, calculado hoje e em 925 milhões de pessoas. Em países pobres, sobretudo na África, boa parte da população gasta mais de 75% da renda com comida. Gente como Adjitti Mahamat, morador do Chade, que deu depoimento à Oxfam. O país tem 3,6 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, e a seca local fez o preço dos alimentos subir até 60% em cinco anos. “Quando tenho fome, faço um caldo para mim e para meus filhos. Se não for possível, bebemos água e vamos dormir”, afirmou,em declaração reproduzida no relatório.

Produção local é alternativa

Perda de Milho pela Seca nos Estados Unidos
A ONG aponta como saída para futuras crises alimentares o fortalecimento de sistemas de agricultura comunitária e sustentável em países pobres, para aumentar as produções regionais e diminuir a necessidade de importações. A Oxfam encoraja países desenvolvidos a ajudar as nações pobres a se adaptarem às mudanças climáticas, proposta que foi rejeitada pela maior parte ricos durante a Rio+20.

No Brasil

Dados da Secretaria Nacional de Defesa Civil mostram que 1.223 cidades estão encarando estado de emergência por seca no país - o que inclui 8,3 milhões de pessoas em regiões semiáridas do Nordeste. Este ano , a produção de leite na Bahia foi reduzida a um terço. O Conselho  Nacional de alimentação e Segurança Nutricional (Consea) admitiu o problema da falta de alimentos em regiões atingidas este mês.

Produzir mais sem sem desmatar é possível 

O pesquisador da Embrapa Eduardo Assad estuda os efeitos das mudanças climáticas desde 1989 — bem antes do relatório do IPCC da ONU, de 2007, que desencadeou o atual alerta mundial de governos e empresas sobre o aquecimento global. Em entrevista a O DIA, ele falou sobre os efeitos do fenômeno na agricultura brasileira, o que está sendo feito para reduzi-lo e garantiu que há como evitar os males do aquecimento na produção sem aumentar a fronteira agrícola, ou seja, desmatar mais.

1- Existem cálculos do prejuízo específico do aquecimento na safra brasileira,assim como a Oxfam fez com o preço dos alimentos em escala global?

Seca no Nordeste do Brasil
O assunto começou a ser estudado em 1989, mas em 2007 fizemos um modelo calculando os impactos de um aumento da temperatura em culturas agrícolas do Brasil. Chegamos à conclusão que ela pode acarretar redução de ofertas de feijão, soja, milho e café, o que, consequentemente, aumentaria os preços. Enquanto isso, culturas específicas,como cana-de-açúcar e mandioca, seriam beneficiadas.

2- Mas existem dados de quanto se perderia?

Se nada for feito até 2020, as perdas seriam de R$7 bilhões por ano na produção. Este ano, por causa de grandes secas no Rio Grande do Sul, as perdas foram de mais de R$ 5 bilhões. O Nordeste também atravessou uma grande seca, mas o prejuízo lá é mais na crise social que a falta de chuva produz do que na produção agrícola nacional.

3- E o que está sendo feito para evitar o pior cenário no País?

Uma das duas grandes frentes frente é a pesquisa de novos tipos de grãos mais resistentes ao calor através do melhoramento genético — na Embrapa há pesquisas relacionadas à soja e ao milho desde 2010 e no Paraná há pesquisas relativas ao feijão. Há ainda a prospecção de genes em plantas do cerrado de épocas em que a temperatura global era bem mais alta. Conhecendo-se as características desses genes, poderemos encontrar mais soluções.

4- E a outra frente?

É a implantação de sistemas rotacionados de lavoura, pecuária e floresta dentro de propriedades agrícolas, o que é chamado de Plano ABC. Já existem linhas de financiamento que encorajam a implantação desse tipo de sistema. Isso aumenta a qualidade do solo e permite a interação da floresta e a recuperação de áreas degradadas por pastagens, alterando pastos e a produção de grãos. É possível ampliar a produção nessas áreas sem aumentar a fronteira agrícola, sem desmatar.

E isso tem funcionado?

Há alguma resistência de produtores, mas já existem de 4 e 5 milhões de hectares de propriedades que usam esse tipo de sistema. Costumo dizer que estamos na “Terceira Divisão” e existe a meta de chegar na primeira. Isso significaria recuperar 60 milhões de hectares de pasto.

Texto de João Ricardo Gonçalves publicado em "O Dia" Rio de Janeiro, 16 de setembro de 2012, com o título de "Aquecimento vai deixar a comida bem mais cara". Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.

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