ALIMENTAÇÃO FORA DE CASA CRESCE 15% EM DEZ ANOS

Setor faturou R$ 235 bi em 2011 e deve avançar 12% neste ano, apesar da crise.Nova moda do setor é o ‘fast casual’,modelo importado dos EUA e considerado uma evolução do fast food. 
Embalados pelo aumento da renda e do emprego, os serviços de alimentação crescem mais rápido do que o varejo tradicional de comida (supermercados) e hoje já consomem 30% da produção da indústria de alimentos. No ano passado, segundo dados da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), o setor de serviços de alimentação faturou R$ 235 bilhões, crescimento de 16% em relação a 2010. Neste negócio, estão restaurantes, bares, lanchonetes e até as refeições servidas dentro de supermercados. Neste ano, apesar da crise que deve derrubar o crescimento da economia para 2%, o setor deve manter expansão acima de 12%, diz a Abia. Os números bilionários são a parte menos visível de um negócio movido a novidades e modismos.Na semana passada, mais de uma centena de empresários se reuniu em São Paulo na palestra de dois consultores americanos que apresentavam uma tendência que vem dos EUA: o “fast casual”, uma espécie de evolução do fast-food. Depois dos sorvetes de iogurte, cupcakes e cafés gourmet, Patrick Noone e Darren Tristano,da Technomics,decretam que as novas tendências são as bebidas energéticas, os chás misturados, as cervejas artesanais e os drinques retrô, com gim e uísque.

No conceito de restaurante, segundo os consultores, o novíssimo “fast casual” promete enfeitiçar consumidores também no Brasil. Nos últimos cinco anos, este modelo de negócios cresceu 11% nos EUA, ante 1,4% do fast food—que mudou de nome e hoje se chama “quick service”. Trata-se de um modelo de restaurante em que os comensais têm refeição rápida e padronizada, como no fast food,mas ambiente e serviço personalizados.Um fast food para ficar e relaxar. “O preço baixo não é o objetivo principal”, afirma Patrick Noone, adiantando que a comida também deve ser mais incrementada neste novo conceito. Ele cita como exemplo a rede americana Yard House, que mistura um menu vasto de cervejas com rock ’n roll. Ela triplicou de tamanho nos últimos cinco anos. Na última década, os serviços de alimentação cresceram em média 15% ao ano no Brasil, e o varejo de produtos alimentícios, 12%.

FORÇA DO SANDUÍCHE

O consultor Enzo Donna, da ECB,especialista em“food service” (serviços de alimentação), observa que, apesar dos modismos, as redes de sanduíche ainda deverão crescer com vigor no Brasil. Segundo levantamento da consultoria,no ano passado, o faturamento das redes de sanduíche cresceu 13% e, neste ano até maio, já tem expansão de 20%. “Nos próximos três anos, o número de lojas com esse conceito deverá crescer 75%”, afirma Donna. O que significa que o fast food, ou o “quick service”, ainda tem fôlego no país. “Talvez a mudança de nome do negócio seja uma forma de desmistificar o fast food e retirar a carga de comida não saudável”, diz Donna. Sinal de que, além da comida, importa o conceito.

A moda nos restaurantes nos anos 2000 e o “vocabulário” do mercado

1. No início
Depois da consolidação do “fast food” nos anos 90, redes com outras opções de alimentação ganham mercado.

2. Em 2006
Com renda em alta, consumidor passa a jantar mais fora e ganha relevância o modelo de “casual dinning”

3. Em 2011
Para abranger a nova oferta de serviços, que não se restringe ao sanduíche, o nome adotado passa a ser “quick service”

4. Em 2012
A nova fronteira do mercado é o “fast casual”,modelo que une rapidez e padronização no serviço de comida com ambiente.


Cresce mercado de serviços de alimentação.

Segundo dados da última pesquisa de orçamentos familiares, de 2010, 31,2% dos gastos com alimentação foram feitos fora de casa. Nos EUA e na Europa, esse percentual supera 50%. É a partir dessa diferença que os empresários do setor tiram o potencial de crescimento do mercado brasileiro. Jean Louis Gallego está no ramo desde os anos 80 e diz que omercado brasileiro passa por franca expansão. A empresa em que atua, a FSB Foods, faz bolinhos e pães para redes de lanchonete e restaurantes. “Há dez anos, a maioria dos restaurantes não sabia sequer o custo unitário do prato”, afirma. “O mercado tem muito a crescer. E não só para os que servem alimentos, mas também para os que preparam.” Segundo estimativa do consultor Enzo Donna, da ECD,o número de refeições diárias preparadas no país deve subir dos atuais 62 milhões para 70 milhões em 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil. “Se esse número fosse hoje, sofreríamos um colapso gastronômico. Não temos distribuidores,mão de obra, nem fornecedores”, diz.


Texto de Mariana Carneiro, publicado na "Folha de S. Paulo" edição de 22 de setembro de 2012. Adaptado e ilustrado (quadros da mesma matéria) para ser postado por Leopoldo Costa.

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