GREVE, TÁXIS, GRAVATAS E BASTARDOS
O mesmo país que irradiou para todo o mundo os ideais libertários da queda da Bastilha deu sentido à palavra que define hoje um dos mais sagrados direitos dos trabalhadores. À margem do Sena, há uma praça hoje pavimentada, mas que antigamente era recoberta por areia e cascalho. Como essas palavras, em francês, eram designadas pelo termo genérico grève, o local passou a ser conhecido como Place de la Grève.
Na praça funcionava a Bolsa do Trabalho, incumbida do registro dos desempregados. Com o tempo, os trabalhadores passaram a se reunir no local à espera de ofertas de serviço. Já em 1805 se adotava a expressão faire grève (fazer greve), para caracterizar a recusa voluntária e coletiva da mão-de-obra em aceitar propostas salariais menos compensadoras. Mesmo com o nome mudado para Place de l’Hôtel de Ville, referência à sede da administração de Paris, a praça continuou a ser palco de reivindicações e a concentrar os atos de protestos dos trabalhadores de toda a cidade.
Segundo Márcio Bueno, no excelente "A Origem Curiosa das Palavras" (Editora José Olympio), “no local, simbólico para o movimento popular, foi proclamada a Comuna de Paris, governo revolucionário instalado na cidade em 1871”. Durou apenas dois meses e foi massacrado pelas forças do governo.
Táxis, gravatas e bastardos
Com esse nome, pelo menos, o táxi rodou primeiro em Paris. Com os carros de aluguel, no começo do século passado, logo surgiu um aparelho que calculava a quantia a pagar pelo passageiro, em função do percurso feito. Essa maquininha, o taxemètre virou depois taximètre. Assim, taxi remontava ao latim taxare, taxar, cobrar, e metre, a metro). Portanto, o taxímetro media o custo dos metros percorridos. Com o tempo, o aparelho, na forma reduzida, passou a nomear o carro dotado daquele recurso.
Famosos pela preocupação em se vestir bem, não é estranho que os franceses tenham também popularizado a peça ainda hoje indispensável no traje dos executivos. Só que esse fetiche da elegância formal, a gravata, teve o nome apropriado dos soldados mercenários da Croácia que faziam parte de um regimento francês no século XVII. Eles usavam em torno do pescoço uma larga tira de pano, que caiu no gosto dos parisienses. O nome cravate, que originou a gravata em português, veio de uma das formas utilizadas para escrever croata, Krawat.
E bastardo para o filho ilegítimo? Também vem do francês e deriva da forma antiga bastard (hoje bâtard). A raiz bast, do germânico, significa celeiro. Bastardo era o “produzido no celeiro”. Afinal, tratava-se de um lugar muito usado na época para as relações extraconjugais...
Texto de Eduardo Martins publicado na revista "História Atual" ano II, edição 24 de outubro de 2005. Adaptado e ilustrada para ser postado por Leopoldo Costa
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