OS DRUÍDAS

Leopoldo Costa.

O druida, na crença dos antigos Celtas, especialmente dos Gauleses, era a pessoa que exercia as funções de sacerdote, juiz, poeta e legislador. Etimologicamente, a palavra deriva-se do gaulês 'dru-(u)id', que significava  "mestre da ciência" ou "sábio". Entretanto, o historiador romano Plínio, o Velho (23-79), defende que etimologicamente a palavra originou-se do grego 'draj' que significa 'carvalho', provavelmente devido à importância que esta árvore tinha nos rituais religiosos dos Gauleses. Esta hipótese não é aceita pelos estudiosos .Os Gauleses estabeleceram a partir de 1000 a.C em algumas regiões do noroeste da atual França, Bélgica e Luxemburgo. Embora os druidas fossem altos dignitários da instituição sacerdotal, também cantavam e compunham versos, além de serem magos e adivinhos. Lucano (39-65) e outros  historiadores gregos e romanos, acreditavam que cada uma destas atividades eram exercidas por diferentes pessoas, mas estavam enganados.
Stonehenge teria sido um santuário Celta, frequentado  pela população, que levava suas oferendas e onde os druídas celebravam seus cultos.
Os druidas mais famosos viveram na Gália e nas Ilhas Britânicas. Eles eram os depositários de toda a tradição oral do povo Celta e um dos importantes princípios religiosos era a crença na imortalidade.
Acredivam que depois da vida neste mundo, partiam para viver num outro mundo subterrâneo onde continuariam a viver eternamente, acompanhados pelas divindades. É por acreditar assim, é que nos sepultamentos incluiam toda sorte de objetos cotidianos que seriam usados para sempre na outra vida.
 A celebração dos rituais religiosos era complexa e envolvida em  muitos mistérios, principalmente os sacrifícios. Todos os procedimentos eram apenas preservados por tradição oral e por isso desde cedo, alguns jovens eram treinados para substituir os druidas mais velhos. Não tinham livros nem  textos sagrados.
O cotidiano de um druída era baseado na fidelidade rigorosa aos rituais e no conhecimento das ervas e plantas e os seus efeitos no organismo humano. Respeitar a natureza e os bosques como lugares sagrados. Embora, não se tem registro que portavam alguma vestimenta que os distinguissem, eram pessoas respeitadas por todas as tribos durante as suas viagens.
Cada ano havia uma reunião de todos os druidas num bosque, segundo alguns localizado onde é hoje é a cidade francesa de Neuvy-en-Sullias e segundo outros no local onde foi construída a Catedral de Chartres.
Existem pouquissimos textos escritos sobre os antigos gauleses, sendo a maioria deles de autoria de gregos e romanos, embora alguns tratem especificamente dos druidas.
Em 1971 foi encontrado próximo a cidade de Clermont-Ferrand na França, o texto de uma oração de 12 linhas, dedicado a uma divindade, escrito numa placa de chumbo. Depois em 1983 foi encontrado na aldeia de Veyssiére, Aveyron, também na França,  a placa que ficou conhecida como  'Chumbo de Larzak', um texto de 57 linhas contendo uma mensagem para o além, que tinha sido colocada junto a um druida sepultado.
Um importante documento, encontrado na cidade que lhe deu o nome, é o 'Calendário de Coligny', uma placa de bronze medindo um  metro e meio de comprimento por 80 centimetros de largura, o que atesta os profundos conhecimentos astronômicos dos druidas gauleses.
Quase tudo o que sabemos sobre os rituais druidicos e suas atividades chegaram até nós pelos historiadores gregos e romanos e estes relatos podem estar distorcidos em razão da rivalidade que existia entre os Romanos e os Gauleses. Existem mais informações sobre os druidas das Ilhas Britânicas pois tiveram menos contato com os Romanos, do que sobre os druidas do continente. A sabedoria druídica era composta de versos aprendidos de cor e conta-se que eram necessários cerca de 20 anos para que se completasse o ciclo de estudos dos aspirantes a druidas. Pode ter havido um centro de ensino druídico na ilha de Anglesey (Ynis Mon, em galês), mas nada se sabe sobre o que era ensinado ali. De sua literatura oral (cânticos filosóficos, fórmulas mágicas e encantamentos) nada restou, sequer em tradução. Mesmo as lendas consideradas druídicas chegaram até nós através do prisma da interpretação cristã, o que torna difícil determinar o sentido original das mesmas.
Uma das melhores fontes históricas para o conhecimento das atividades é o livro 'De Bello Gallico' de Júlio César (100-44 a.C), que trata-se da guerra entre Roma e Gália, que durou de 59 a 52 a.C. Nele é descrito que os druidas formavam uma casta de iniciados que recebiam treinamento esotérico rigoroso e prolongado nas Ilhas Britânicas. Continua informando que os druidas eram responsáveis pelos rituais de sacrifícios públicos e particulares. Depois as suas funções estenderam-se para as áreas política e judicial. Eram eles encarregados na aplicação das leis e nas punições para quem não cumprisse as leis.Eram pessoas de grande conhecimento que conheciam os segredos de Religião, Astronomia, Geografia e Botânica e em razão disto gozavam de grande prestígio na sociedade em que viviam, permitindo-os a isenção no pagamento de tributos e na prestação de serviço militar.
Segundo o livro, os druidas ensinavam a doutrina que a alma não morre e que depois da morte ela é incorporada em outra.
O sistema religioso dos druídas gauleses era muito complexo e poderoso. Suetônio (69-141), historiador romano, denominou os cultos como 'religião druida' que na sua época exerceram grande fascinação, sendo alguns sincretizados pelos Romanos. Segundo ele uma das funções mais importantes dos druídas eram presidir as cerimônias de sacrifícios, geralmente humanos.
O geógrafo grego Estrabão (63 a.C-24 d.C) relatou que os druidas praticavam sacrificios humanos e as vítimas tinham que ser homens importantes e estavam estreitamente relacionados com os ritos de adivinhação. Golpeavam com a espada a espádua da vítima e pelas suas contorções deduziam previsões.
Plínio, o Velho (23-79) no livro 'História Natural'descreveu que 'terminados os preparativos para o sacrifício e o banquete debaixo de um carvalho (com visgo) levam ali dois touros brancos'
Sabemos também que entre os conhecimentos esotéricos transmitidos por via oral existiam os que referiam-se a magia, ao uso de ervas medicinais e a determinação dos dias de sorte e de azar. Este tipo de conhecimento justifica-se por que  alguns historiadores antigos os relacionasse com os filósofos pitagóricos gregos.
Cathbad, um inspirado visionário druida profetizou o trágico destino de Deirdre no dia de seu nascimento. Ele era também um comandante militar. Os druidas, tanto masculinos como femininos, gozavam de grande prestígio na sociedade celta. Eles foram conselheiros, juízes, professores e embaixadores. Nem mesmo o rei poderia discursar numa reunião antes do druida. A autoridade do druida estava muitas vezes acima da do rei e era ele quem presidia a assembleia para elegê-los. Algumas vezes ele é quem se elegia para o cargo.
Sabe-se que o druida Mog Ruith foi escolhido pelos gauleses de Munster para ser rei, recebendo muitos privilégios, porém não aceitou a indicação.
A casta druidica constituia uma instancia até superior a dos militares e alguns se transformaram em comandantes militares.
A pulverização do povo gaulês em pequenas comunidades exigiu maior quantidade de druidas.
Em algumas aldeias foram criados centros relevantes de culto druídico, como o santuário britânico de Anglesey, cuja destruição no século I d.C pelo exército romano foi descrita por Tácito (55-120)
Existem notícias, ainda poucas e confusas sobre a existência de comunidades de druidas do sexo feminino, que Pomponio Mela (sec. I d.C) localizou na desembocadura do rio Sena, formada por nove sacerdotisas virgens, especializadas em prever o futuro e realizar curas mágicas, como também provocar tempestades e transformar pessoas em animais como se fossem bruxas.
É provável que algumas destas atividades sobreviveu, por exemplo, nos rituais realizados pelas freiras do mosteiro irlandês de Kildare,que mantiam um fogo perpétuo em honra de santa Brígida (453-524), santa católica sincretizada de uma divindade antiga indo-européia.
Os druidas colocaram uma forte resistencia ao domínio romano na Gália e neste embate surgiu a figura de Diviciaco. Isso os levou a patrocinar a união de todas as tribos celtas liderada pelo chefe Vercingetorix, até ser batido por Julio César em 52 a.C. Apesar da romanização da Gália e das Ilhas Britânicas a partir desta época a cultura e a religião gaulesa manteve-se viva sendo necessário uma grande perseguição até ser assimilada pelo Cristianismo, sobretudo a partir do século III, que fez tudo para abolir qualquer forma de paganismo.
A partir do  século XVI apareceram várias correntes de pensamento religioso que tentaram restaurar os antigos ritos e crenças dos druidas e opor-se à ortodoxia cristã dominante.
Estas seitas neodruidicas têm um fundo ideologico apegado a magia natural e ao culto panteista a natureza e conta com comunidades como a Ordem Druida, fundada em 1717 e que existe até hoje. Outras seitas são a Antiga Ordem dos Druidas, a Confraternidade Filosófica dos Druidas, a Ordem Druida e a Fraternidade dos Druidas. Hoje, este tipo de movimento religioso estão num processo de expansão, devido a decepção de muitas pessoas com as religiões tradicionais e a tendência de volta as formas de pensamento místico e naturalista.
As tradições que ainda existem do que seriam seus rituais, foram conservadas no meio rural e incluem a observância do Halloween (Samhaim), rituais de colheita, plantas e animais, baseados nos ciclos solar, lunar e outros. Tradições que seriam partilhadas pela cultura de povos vizinhos.

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