EDIR MACEDO - O DINHEIRO É UM BEM.
Veja- Sua igreja é acusada de mercenarismo e o senhor de usar Deus apenas como marketing para arrancar doações das pessoas que o procuram. Há alguma relação entre a fé e o dinheiro?
MACEDO - O dinheiro é uma necessidade do homem. Na Bíblia, ele aparece como uma ferramenta, com a mesma função que o serrote tem para o carpinteiro e a enxada para o lavrador. Sem o dinheiro, é impossível viver. O próprio Jesus tinha seu tesoureiro, Judas Iscariótes. Achar que o dinheiro é um mal não faz sentido.
Veja - Todo mundo sabe que, justamente pelo dinheiro, Judas traiu Jesus.
MACEDO - O dinheiro pode ser usado para o bem e para o mal. Judas foi um traidor, era inclusive ladrão, pois vinha roubando a sacola de Jesus, como se ficou sabendo naquele último dia. Mas dizer que o dinheiro é sempre um mal não é verdade. Ele pode ajudar as pessoas. Eu, por exemplo, uso o dinheiro para o bem, coloco-o a serviço de Deus.
Veja - O senhor, particularmente, gosta de dinheiro?
MACEDO - Quando usado pela pessoa que não se apega demais a ele, por alguém que tem Deus no coração, não há motivo para não gostar do dinheiro, pois ele é veículo de felicidade. Caso contrário, traz desgraça. Dou um exemplo. Não me lembro de nenhum dos ganhadores da Loteria Esportiva - pessoas pobres que ficaram ricas da noite para o dia - que tenha terminado bem. Por que isso? Porque aquele dinheiro carecia de uma sustentação, não tinha base, não tinha respaldo espiritual.
Veja - Mas Jesus era pobre.
MACEDO - Esse é um tremendo engano. Jesus nunca foi pobre. Ele disse: "Sou o senhor dos senhores, o rei dos reis". Um rei nunca é pobre, a menos que esteja destronado. Sendo rei dos reis, Jesus era rico. Ele veio no mundo na pobreza, andou na pobreza para sentir na pele o que é ser pobre, o que é viver na condição mais insignificante do ser humano. Mas Jesus não era pobre.
Veja - Numa concentração que o senhor promoveu no Maracanã, este ano, funcionários de sua igreja saíram do estádio carregando enormes sacos de dinheiro. O senhor não se sente constrangido em promover uma exibição de milhões, como aquela, diante de pessoas que, algumas vezes, têm pouco dinheiro para comer?
MACEDO - Não sou estúpido o suficiente para exibir diante de 200 000 pessoas sacos contendo as ofertas feitas numa concentração como aquela. Dinheiro é uma coisa reservada, que eu não posso deixar à vista das pessoas. Afirmo que aqueles sacos continham pedidos de oração. Nós sempre fizemos isso em nossas reuniões especiais. Sobre os pedidos, clamamos todos os pastores juntos. Ajoelhamo-nos ao pé da cruz e oramos por eles. Depois disso, eles são levados para um lugar especial e queimados na chamada "fogueira santa".
Veja - Quais as principais fontes de renda da Igreja Universal?
MACEDO - São as ofertas e o dízimo - a décima parte do salário ou rendimento que cada fiel destina à sua igreja quando segue um preceito existente na Bíblia.
Veja - O senhor nunca teve dó de receber 10% do salário de um trabalhador que com dinheiro apertado tem de sustentar a mulher e os filhos?
MACEDO - Não, isso não. O dinheiro do dízimo não lhe fará falta. Não sou eu quem diz isso, é a Bíblia. Sou apenas alguém que comunica aquilo que está escrito nela - e mais nada. Se é justo ou injusto, não me cabe julgar. Não fui eu que determinei aquilo. O dízimo é uma coisa de Deus.
Veja - De que modo o senhor cobra o dízimo de seus fiéis?
MACEDO - O dízimo é espontâneo. Contribui com ele quem quer. Eu apenas lembro as pessoas que se trata de um preceito da Bíblia. Mas a decisão de pagar ou não o dízimo compete a cada um. Outro dia fiquei sabendo que a Igreja Católica está usando programa de computador para controlar o dízimo de seus fiéis. Na minha igreja não é assim. Não fiscalizamos quem paga e quem não paga porque é uma coisa da consciência de cada um. O dízimo, para nós, também não é uma obrigação, como na umbanda e no candomblé, enfim, na macumba, em que a pessoa é obrigada a oferecer animais, casas e, em casos extremos, o próprio sangue, para obter certas coisas.
Veja - Na Igreja Universal, como no maioria das seitas pentecostais, as pessoas são bombardeadas com a idéia de que a prosperidade só virá se suas ofertas forem generosas. Isso não seria uma chantagem espiritual?
MACEDO - Não, porque é algo autorizado pela Bíblia. Está escrito no Livro de Malaquias (3,10) e no Evangelho de Lucas (6,38). Em toda a Bíblia, da primeira à última página, encontra-se a palavra oferta, direta ou indiretamente. À medida que as pessoas dão, recebem também, porque isso está escrito ali. A oferta dimensiona o coração das pessoas.
Veja - O senhor está querendo dizer que a salvação de uma pessoa depende das ofertas que ela faz?
MACEDO- A Bíblia nos manda fazer ofertas. Mas a salvação depende exclusivamente da nossa fé em Jesus. Não é uma questão demais ou menos ofertas. A oferta é um dever, mas sozinha não salva. Temos de crer, no sentido original da Bíblia, que significa nos entregarmos de corpo e alma e espírito. É essa fé que nos leva à salvação.
Veja - Em pouco mais de treze anos, a Igreja Universal se tornou rica e poderosa. Outras seitas pentecostais também prosperaram muito nas últimas décadas. Abrir uma igreja é um bom negócio?
MACEDO - Isso não passa de uma lenda. Se é um bom negócio, eu convido todo brasileiro a abrir uma igreja. Que se faça essa experiência. Vai ser uma decepção.
Veja - Onde o senhor conseguiu os 45 milhões de dólares para comprar a TV Record?
MACEDO - Junto aos fiéis da Igreja Universal, que fizeram ofertas para sua aquisição. Mas não foi um dinheiro que veio de pessoas iludidas, enganadas como alguns dizem erroneamente. Na minha igreja, todos sabem por que dão as ofertas e para onde elas serão destinadas. Em nossos estatutos, consta que podemos ter emissoras de rádio e de televisão, que podemos comprá-las em nome de terceiros para divulgar nossas mensagens, assim como a Igreja Católica possui cento e tantas emissoras espalhadas pelo país. Não acho que exista qualquer coisa errada nisso. O dinheiro que arrecadamos é para a divulgação do Evangelho.
Veja - A TV Record será transformada numa igreja eletrônica?
MACEDO - Sou contra a igreja eletrônica do tipo das existentes nos Estados Unidos, em que o pastor fica no vídeo e as pessoas o assistem em casa, distraindo-se com a campainha da porta que toca ou com o gato que mia. Na minha igreja, preferimos o contato direto com o povo. Divulgaremos o Evangelho na TV Record, mas em programas na abertura e no encerramento da programação. Fora disso, ela será uma emissora comercial, como qualquer outra, para disputar audiência com suas concorrentes.
Veja - A emissora está em seu nome ou no da Igreja Universal?
MACEDO - Pelas leis da comunicação, ela não poderia estar em nome da Igreja Universal. Então, fizemos um condomínio, com um grupo de pastores, que controla 70% da emissora. Tenho apenas uma parte desse bolo e presido o condomínio. Os outros 30% ficarão nas mãos dos funcionários da emissora.
Veja - Se o senhor morresse hoje, quem ficaria com a sua parte no bolo?
MACEDO - Deixarei uma procuração para a igreja. Ela ficará com a minha parte.
Veja - A que atribuir o grande crescimento de sua igreja?
MACEDO - Á ação direta do Espírito Santo.
Veja - Todas as seitas pentecostais dizem ter a projeção direta do Espírito Santo. Mas a sua é a que mais tem crescido. Há outro motivo?
MACEDO - Talvez porque, na Igreja Universal, exista realmente um canal direto entre as pessoas e Deus, sem intermediários.
Veja - A Igreja Universal é muito bem estruturada. Os pastores gostam de atuar nela. São raras as queixas de falta de assistência material. Eles recebem casa, salário e tratamento médico de graça. Isso também ajuda?
MACEDO - É evidente que sim. Acredito que Jesus, quando foi fazer o Sermão da Montanha, subiu ao monte de frente para o mar, na Galiléia, e falou para milhares de pessoas. Por que subiu àquele monte e não a outro? Porque o vento que soprava ali levava sua palavra até as pessoas que estavam lá embaixo, junto ao mar. Quer dizer: Jesus usou uma técnica de comunicação, e nossa igreja também utiliza técnicas de comunicação, além de procurar ser eficiente no seu trabalho, de ficar do lado do vento.
Veja - O senhor já acusou a Igreja Católica de perder fiéis para o pentecostalismo, no Brasil, por estar mais preocupada com a política do que com a salvação da alma.
MACEDO - Já esgotei esse assunto. Para mim, a Igreja Católica é um corpo que tem um braço esquerdo e um direito. Por isso ela perde tantos adeptos. Jesus disse: nenhuma casa dividida poderá permanecer.
Veja - Qual a maior diferença entre o trabalho pastoral de sua igreja e o realizado pelos católicos?
MACEDO - No nosso trabalho, aproximamo-nos muito do povo. Vamos além do culto. A maioria de nossos templos se transforma em creches, em muitos funcionam escolas de alfabetização. Realizamos um tipo de trabalho que não vejo na Igreja Católica, onde o padre reza a missa e pronto: cada um vai para sua casa. Na hora da dificuldade, do tormento, da dor, quando a criatura chega ao fundo do poço, a Igreja Católica - pelo menos aqui no Brasil - raramente atende à sua necessidade.
Veja - Como são suas relações com os outros pentecostais?
MACEDO - Temos poucas relações porque os outros pentecostais se voltam demais para o fanatismo, misturam a fé com os costumes. Ora, uma coisa nada tem que ver com a outra. Os pentecostais tradicionais, por exemplo. fundamentam-se em doutrinas baseadas nos costumes da época de Jesus. Nós, ao contrário, não vetamos nada. Na Igreja Universal é proibido proibir. A pessoa é livre para fazer o que bem entende. Um homem pode ter dez mulheres, ou uma mulher, dez maridos. A pessoa é livre para beber, fumar, para fazer o que bem entende. Nossa obrigação é ensinar-lhe a Bíblia e mostrar-lhe que tem de tomar, por conta própria, a decisão de não fazer isto ou aquilo.
Veja - E com os católicos?
MACEDO - Somos mundos completamente diferentes. A Igreja Universal está crescendo e a igreja deles está caindo. Há uma preocupação conosco, de parte dos católicos. E nós não temos nenhuma preocupação com eles.
Veja - Sua igreja é contraria ao ecumenismo?
MACEDO - O ecumenismo nunca vai funcionar. Explico. Há quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Todos dizem a mesma coisa, mas com pontos de vista diferentes. Essa pluralidade é obra de Deus. Com as religiões é a mesma coisa. Por que haveria de ser diferente?
Veja - Quantos processos já foram movidos contra o senhor?
MACEDO - Não tenho a menor idéia. A única coisa que sei é que sou vítima de uma incoerência. A gente ajuda algumas pessoas, mas aquelas que têm o espírito de Caim, ou seja, da inveja, vendo-se prejudicadas com o nosso crescimento, movem-nos processos a esmo.
Veja - Mas no Rio de Janeiro a Igreja Universal foi responsabilizada este ano pela morte de uma mulher, por suposta omissão de socorro. Numa assembléia realizada no Maracanã. Maria Pureza da Silva, de 65 anos, apresentou sintomas de enfarte e não teria sido socorrida porque alguns membros de sua igreja alegavam que aquele seria um desejo de Deus.
MACEDO - Não estava perto, naquele momento. Cheguei no Maracanã às 10 horas da manhã e ela havia falecido entre 7 e 7h30. Acho que tinha chegado a sua hora. Deus quis levá-la e eu não sou Deus para explicar isso. Omissão de socorro certamente não houve. Quando alugamos o Maracanã, também contratamos serviços médicos, e os médicos são obrigados a prestar assistência às pessoas que eventualmente se sintam mal.
Veja - Nas suas assembléias e cultos, o senhor promove sessões de cura. Como reage á acusação de que não passaria de um curandeiro ou um charlatão?
MACEDO - Desafio a quem quer que seja para provar que sou um curandeiro ou um charlatão. A boca fala o que quer. O papel aceita o que nele se imprime.Até hoje, nem a polícia nem a Justiça conseguiram provar nada contra mim. Simplesmente porque sou um homem limpo, fiel à palavra de Deus. A fé é que cura as pessoas. Não dou receita para ninguém. Apenas oro para que as pessoas sejam curadas. A Bíblia e a lei do Brasil não me proíbem de fazer isso.
Veja - As pessoas realmente se curam na Igreja Universal?
MACEDO - Tenho uma infinidade de testemunhos mostrando que sim. Se alguém duvidar, mostro as provas. Possuo uma declaração de um médico judeu, atestando a cura de uma pessoa - hoje um de nossos pastores - que veio com Aids para a Igreja Universal. Curas prodigiosas são freqüentes na Igreja Universal. Pessoas que estavam com câncer, desenganadas pela medicina, também já ficaram boas. Claro que não posso dizer que todos aqueles doentes pelos quais oramos ficam curados. Depende da fé das pessoas. Se uma pessoa crê, recebe cura.
Veja - Numa sessão de cura, também ocorrida este ano, o senhor fez centenas de pessoas jogarem fora os seus óculos de grau, porque estariam curadas de defeitos na vista. Não era verdade. Muitas delas tiveram de mandar fazer novos óculos de grau.
MACEDO - Não, não pode. Antes de jogar fora os seus óculos, mando as pessoas fazerem um teste. Sempre peço isso. Se elas colocam os óculos e enxergam embaçado, os óculos não servem mais. Só jogam fora os seus óculos aquelas que constatam a cura. A não ser, é claro, que a pessoa esteja mentindo.
Veja - O senhor realmente acredita em Deus?
MACEDO - É evidente que sim. Afinal, não sou nenhum hipócrita. Se não acreditasse em Deus, não seria um pastor.
Texto integral da entrevista concedida por Edir Macedo a revista Veja (14/11/1990), no ano em que adquiriu a TV Record. Editado e adaptado para ser postado por Leopoldo Costa
0 Response to "EDIR MACEDO - O DINHEIRO É UM BEM."
Post a Comment