COMO SÃO ESTABELECIDOS OS PREÇOS DA CARNE BOVINA

Leopoldo Costa

1. Introdução

Até meados da década de 60 o centro formador do preço mundial da carne bovina desossada era o mercado de Smithfield em Londres, um dos mais antigos do mundo. Ali é que eram definidos os preços de cada tipo de corte bovino a ser comercializado no Mundo, pois, os ingleses monopolizavam o mercado.
Depois, firmando-se a partir da década de 70, passaram a existir dois centros formadores de preço. Um representado pelos Estados Unidos/Austrália e outro representado pela União Europeia/América do Sul.

2. Os Centros Formadores

O centro formador Estados Unidos/Austrália é peculiar, pois existe a proibição pelo governo dos Estados Unidos, baseado em barreiras sanitárias, de não permitir a entrada de carne desossada de outros países de maior produção, como Brasil e Argentina.

A União Europeia, desde a década de 90 tornou-se auto-suficiente na produção de carne e passou então a ser mais exigente nas suas compras. A situação ficou ainda mais complicada com a admissão de novos países como membros da UE a partir de 2004. Existe uma forte pressão política dos países produtores para dificultar as importações, forçando a UE a impor medidas de controle sanitário e taxações sobre a carne importada. Em igualdade de condições e mesmo com os subsídios não seriam competitivos.

Principalmente Londres, Rotterdam, Hamburgo e Genova se destacam como os mercados que influenciam na formação dos preços.

A liberação da economia da Rússia hoje é um fator importante no comércio mundial de carne, porém a União Europeia continua com mais influência na formação dos preços. As exportações de carne entre os países membros da União Europeia é apreciável. A União Europeia é o segundo maior produtor mundial de carne bovina  ficando atrás apenas dos Estados Unidos e continua  um importante importador, o quarto maior do mundo.

Outros mercados expressivos mas sem influência na formação dos preços são Honk Kong, (que redistribui o produto para a China), Irã, Egito e Venezuela.

A produção mundial de carne bovina e o consumo estão equilibrados desde o início do século em torno de  62 milhões de toneladas por ano. Devido à sensibilidade do mercado, qualquer acontecimento político, econômico e de impacto ambiental pode influenciar na formação dos preços. O comércio internacional está  atualmente numa média anual de 6,8 milhões de toneladas.

3. Os Ciclos

Estudos estatísticos fazem acreditar que os preços mundiais da carne bovina respeitam um ciclo de sete anos. O grau de flutuação depende sempre do comportamento do ciclo precedente e são encadeados. Os ciclos não acontecem simultaneamente no mundo inteiro, ficam restritos a países e regiões e podem acontecer em épocas diferentes, sem nenhum sincronismo entre eles.

Algumas variáveis podem influenciar na ocorrência destes ciclos:
1. A política agropastoril dos países produtores (controle de preços internos, subsídios, cotas etc.).
2. O programa de estocagem de carne congelada da União Europeia.
3. Estímulo ao consumo interno dos países importadores e exportadores.
4. Cotação cambial artificial.

Os ciclos são resultado dos conflitos a curto e longo prazo das decisões individuais que influenciam a variação de produção.

Quando os preços da carne estão altos o criador decide aumentar sua produção a longo prazo e para isso precisa aumentar o seu rebanho, que pode ser realizado mantendo as vacas que seriam descartadas, ao invés de abatê-las. Isto provoca a curto prazo um decréscimo de oferta de animais para abate o que agrava os preços em ascensão.

Por outro lado, quando os preços estão caindo o reverso acontece: para diminuir o seu rebanho as vacas ainda parideiras e as novilhas menos promissoras são enviadas para abate, aumentando a produção de carne e debilitando ainda mais os preços a curto prazo.

Modelo típico do ciclo

•       Ano 1. – Diminuição do rebanho + lento aumento do consumo + lenta queda na produção= lento aumento dos preços.

Ano 2. – Aumento de rebanho + lento aumento do consumo + diminuição da produção= rápido aumento dos preços.

Ano 3. - Aumento do rebanho + queda do consumo + lenta diminuição da produção= preços muito altos.

Ano 4. – Diminuição do rebanho + baixo consumo + rápido aumento da produção= preços em queda.

Ano. 5 – Rebanho estabilizado + aumento de consumo + produção estabilizada= preços hesitantes.

Anos 6 e 7. – Diminuição do rebanho + aumento de consumo + lento aumento da produção= preços baixos estabilizados.

Fatores que influenciam a variação dos ciclos.

Na União Europeia - O preço do leite e derivados, a sazonalidade de produção (maior na primavera e menor do outono) e as decisões políticas, principalmente em relação à formação de estoques e abates de fêmeas (por excesso de produção de leite).

Nos Estados Unidos- O preço dos cereais, o índice de inflação, a taxa de desemprego e as decisões políticas.

Na América do Sul- As decisões políticas é o mais importante fator, depois temos as variações sazonais (safra e entressafra hoje amenizadas pelo confinamento e semi-confinamento, que tornaram também um fator pelo seu volume) e os preços dos cereais (na Argentina principalmente).

Na Austrália- As circunstâncias climáticas e o preço da lã e da carne ovina (que afeta a quantidade de ovinos nas pastagens, concorrendo com os bovinos na ocupação).

5. Estrutura dos preços dos diferentes cortes.


Os preços para o consumidor são diferenciados para as diversas partes do animal abatido.

Dois fatores sustentam esta hierarquia de preços:
1. A qualidade- maciez e sabor.
2. A conveniência- facilidade e agilidade no seu preparo.

De acordo com a importância dada pelo consumidor a estes dois critérios um preço pode ser atribuído a cada corte. Este preço também controla a demanda para equilibrar o suprimento disponível de cada corte, evitando a sobra ou a falta. O preço do quilo de filé mignon e da picanha, por exemplo, é o triplo do preço do quilo de acém.

A conveniência, isto é, a quantidade de tempo necessário na preparação da carne a ser consumida, está valorizando aqueles cortes que podem ser fritos ou grelhados (filé mignon, contra filé, alcatra, picanha e parte do coxão mole)

Aqueles outros cortes que essencialmente prestam-se para serem cozidos ou assados no forno ou produzem bifes não tão macios (coxão duro, patinho, lagarto, músculos, acém, paleta e peito) e, portanto exigem mais tempo para o seu preparo, têm um diferencial de preços apreciável comparando com os primeiros. O que está acontecendo hoje é o aumento do diferencial entre estes grupos de cortes causados pela melhoria do padrão de vida da população. A grande maioria dos cortes que exigem mais tempo de preparação, devido a seu preço convidativo, passaram a ser procurados para industrialização para preparo de charque, ‘bresaola’, carne de sol, produtos de salsicharia e rosbife, além de serem vendidos como carne moída.

Foram efetuadas  em meados do século passado, experiências principalmente pela Swift nos Estados Unidos, com artifícios para melhorar a maciez dos cortes, pela injeção de enzimas (principalmente papaína, bromelina e ficina) no animal meia hora antes do abate, prática esta que foi condenada e proibida pela maioria dos países. Com este procedimento quando a carne é aquecida/frita/assada o efeito da enzima era ativado e a carne ganhava mais maciez.


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