PIZZA AJUDA A EVITAR CÂNCER
O azul do Mar Mediterrâneo é inconfundível. Está no meio de terras, entre a Europa, a África e a Ásia. Nesta parte do mundo, seca e áspera, as civilizações da Antiguidade deixaram hábitos de uma notável coerência: a dieta mais famosa do planeta, feita de poderosos antioxidantes – como o azeite extraído das oliveiras, o vinho e o peixe – e vegetais exuberantes, ricos em polifenóis, um antídoto contra os males do envelhecimento.
Inventores da medicina dietética, os povos antigos perceberam, em um passado remoto, o que a ciência só hoje anuncia: mais de 30% dos casos de câncer estão ligados à comida. A pizza "margherita", comprovadamente capaz de produzir o bom humor, se consumida na dose certa, pode virar remédio contra o tumor do estômago e da boca.
No centro do Mediterrâneo, a Itália reina como a nação que cultivou a arte de fazer grandes pratos com os ingredientes mais simples e onde a vida dura mais tempo.
A Dieta Mediterrânea, em breve, será declarada pela Unesco Patrimônio Imaterial da Humanidade, pela sua tradição, pelo seu valor histórico e cultural. Esse modelo de alimentação, que se tornou uma referência em várias partes do mundo, é também um estilo de vida que pode ajudar a prevenir muitas doenças. Cinquenta anos depois de ter sido batizada como Dieta Mediterrânea, novas pesquisas confirmam aquilo que nos anos 50 foi uma intuição genial: esses produtos, bem combinados, podem favorecer uma vida muito longa e saudável.
Partimos para o sul, para a capital mundial da Dieta Mediterrânea, atrás de um homem e da sua intuição. Pioppi, no Cilento, é uma cidade balneário com um mar incontaminado. Na região viveu o cientista que deu nome à comida cotidiana dos italianos do pós-guerra e reconheceu os seus efeitos muito benéficos para a saúde: o americano Ancel Keys, especialista em fisiologia. Sua descoberta ganhou um museu em um casarão nobre de 1600.
Nos relatos do professor Ancel Keys, a carne vermelha não aparece. A Dieta Mediterrânea era a alimentação dos pobres.
"De fato, a carne era prevista em pouquíssimas ocasiões. Era o prato da festa. E aquilo que parecia uma privação revelou-se uma grande riqueza para essas populações", diz a responsável pelo Museu da Dieta, Tânia Batipedde.
Nos anos 50, de cada dez americanos, cinco morriam fulminados por infarto do miocárdio ou derrame cerebral. Foi então que o cientista Ancel Keys começou um grande projeto internacional de pesquisa que nunca tinha sido feito antes no mundo: o estudo dos hábitos de 12 mil pessoas de três continentes, entre 40 e 60 anos. Vinte anos depois, só os mediterrâneos continuavam muito bem de saúde: os gregos de Creta e, principalmente, os italianos do sul.
Ancel Keys foi morar em Pioppi com a família para estudar as razões da boa saúde local. O cientista morreu aos 101 anos de idade, seguindo rigorosamente a Dieta Mediterrânea.
Nós fomos procurar a mulher que durante 40 anos foi a sua cozinheira. Delia Maria Morinelli ensinou ao médico americano o regime alimentar que pratica até hoje.
"Comemos os nossos produtos. Agora, berinjelas, pimentões, tomates. Também feijões frescos – que são deliciosos – e feijões que fazemos secos, como grão-de-bico, lentilhas, ervilhas. Batatas, brócolis e repolhos. Carne de vaca a cada 15 dias, muito peixe, frango, coelho e frutas", explica a dona de casa.
Delia Maria revela que o cientista Ancel Keys bebia molho de tomate todos os dias para evitar doenças. "Às vezes, até fazia um brinde", diz ela. Delia Maria e o marido, Giovanni, têm planos de viver muito tempo, como o patrão e amigo Ancel Keys, com os tomates da horta. Rico em licopeno, um corante natural, o tomate é um forte antioxidante. Combate os radicais livres, as moléculas que se tornam responsáveis por alguns tipos de câncer, por doenças do coração e pelo envelhecimento precoce.
Um estudo de 30 instituições europeias concluiu que o consumo de 120 gramas de tomate três vezes por semana ajuda a prevenir o câncer de estômago, do esôfago, das vias respiratórias, da boca e da faringe.
"O importante é que se coma muito tomate – não em grande quantidade, mas com continuidade. Tomates vermelhos e maduros, porque o licopeno existe na cor vermelha e na fruta madura", ressalta o pesquisador em conservação de alimentos Marco Molino.
Reportagem de Ilze Scamparini disponível em http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-20372-3,00.html. Acessado em 14/12/2008. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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