MATADOURO PÚBLICO DE SÃO PAULO

Matadouro de Vila Mariana

Leopoldo Costa

Nos primeiros tempos, a vila de São Paulo de Piratininga, como em todos os outras povoados do Brasil, o abate de animais para consumo da população era efetuados nos arredores, removendo o couro e a barrigada no chão e dependurando as carcaças em arvores para fazer a separação dos lados. São Paulo teve três matadouros públicos municipais.

MATADOURO DE SANTO AMARO

Em 1773, procurando controlar os abates, principalmente para arrecadar tributos e secundariamente com objetivos sanitários, foi construído o primeiro matadouro público de São Paulo. Localizava-se na rua Santo Amaro (também conhecida na época como rua do Curral), próximo à capela de Santa Cruz e da esquina da rua Jacareí, no atual centro histórico da cidade. Anexo foi construído o curral do Conselho por Lourenço Ignácio Vieira Antunes. Todas as reses a serem destinadas ao matadouro tinham que ser registradas no livro próprio e pagar uma taxa de um vintém por cabeça. O sangue, os resíduos dos buchos e da lavagem das vísceras; e outras sobras não comercializadas eram simplesmente despejados no ribeirão Anhangabaú. O forte cheiro, a possibilidade de contaminação, fizeram que a população através de abaixo-assinados solicitassem a solução desses problemas.

A Câmara Municipal desde a posse da legislatura de 1828 procurou soluções, discutindo a construção de um novo matadouro. A primeira sugestão foi construir o matadouro próximo ao atual Largo do Arouche, em terrenos desmembrados das chácaras de Thomas de Molina e do tenente-general Arouche. Foi descartado. Discussões na Câmara até chegaram a apontar como melhor solução a recuperação do antigo matadouro, porém foi desativado em 1856.

MATADOURO DA RUA HUMAITÁ

Em 21 de julho de 1830 o vereador J.M. da Luz deu parecer na Câmara defendendo a necessidade da construção de um novo matadouro e apontando como o local adequado a praça da Alegria.

Em 1845, a Assembleia Provincial apresentou um relatório ao presidente da província Manuel da Fonseca Lima ponderando a necessidade da construção de um novo matadouro. O presidente acatou a sugestão, solicitando providências à Diretoria Geral de Obras Públicas que chegou a encaminhar ao presidente um projeto de autoria de arquitetos ingleses e franceses (Happe, Ganche e Radel).

As discussões prosseguiram. Em 1848 a Assembleia Provincial enviou a autorização para a Câmara Municipal de um empréstimo de 10 contos de réis a serem pagos em 8 trimestres para que no prazo de dois anos fosse edificado o novo matadouro da cidade.

Somente em 1852 iniciou-se a construção, ficava num prolongamento da rua da Pólvora,  em terreno que dividia na frente com a chácara de Antonio de Pádua Lisboa, do lado esquerdo com o caminho de carro que ligava a vila de São Paulo à aldeia de Ibirapuera e pelos fundos com a chácara de João Sertório. Compreendia o que é hoje a rua da Liberdade, entre o largo da Liberdade e a rua Condessa de São Joaquim.

As descargas dos dejetos era feita no córrego Itororó (onde hoje passa a avenida 23 de maio). O projeto aprovado foi do engenheiro Bresser e a construção sobre o encargo do engenheiro francês Aquiles Martin d'Estadens. Começou a funcionar em  13 de agosto de 1853, sendo necessário abrir uma rua de acesso ao matadouro.

Em 21 de agosto de 1858 foi publicado o regulamento para o Matadouro Público. Foi estabelecido o horário de funcionamento das 10 as 18 horas. A obrigação dos médicos da Câmara de examinar as reses, que não poderiam ser cortadas sem a liberação. Normas sobre transportes e disposição dos dejetos. Os buchos seriam esvaziados junto ao portão do matadouro, entre o prédio e o córrego, havendo multas para o despejo em outros locais.

Mais tarde os mesmos problemas do matadouro primitivo reapareceram, pois o córrego Itororó é um dos formadores do ribeirão Anhangabaú. Todos os resíduos de sangue e limpeza de barrigada despejados nele passariam pelo centro da cidade. Além disso, o tempo o deteriorara. Tornou-se obsoleto.

Numa inspeção o Chefe da Polícia constatou que o piso todo esburacado acumulava sangue, gordura e água, exalando "miasmas pútridos que comprometiam a salubridade".

Funcionou até junho de 1886. No ano seguinte foi demolido e a área vendida para o conde de São Joaquim que a loteou.

MATADOURO DA VILA MARIANA

Aparentemente um dos motivos que precipitaram a mudança do matadouro foi um ofício do delegado de polícia, datado de 7 de abril de 1866 em que ele pondera a necessidade imediata da remoção de focos de infecção como o matadouro. Em 1870 uma comissão de médicos liderada pelo dr. Alfredo Ellis enviou um documento pressionando pela mudança, apontando como principal motivo a poluição do Anhangabaú.

Outro problema era a passagem de animais pelo centro da cidade. Para normatizar foi apresentado em 1852 um projeto de postura sobre as tropas de animais de carga, que exigia sua separações em lotes para transitar e que não poderiam ficar soltos.

Numa outra postura datada de 18 de abril de 1859 foi delimitada a área em que o gado poderia transitar solto. Era pelas seguintes pontas:"pela estrada de Santos, até o Hospital da Misericórdia. Pela de Santo Amaro até a Casa da Pólvora. Pela do matadouro velho até a chácara do Falcão. Pela de Sorocaba, até a igreja da Consolação. Pela de Campinas até a rua da Palha. Pela do Brás até a chácara do Anacleto. Pelas ruas de São João e dos Bambus até a de Santa Efigênia. Pela rua Tabatinguera até a ponte e pela a da Constituição até a ponte do Miguel Carlos."

A solução era a construção de um novo matadouro em lugar distante da cidade. O engenheiro Silva Coutinho enviou ofício para o governo da província sugerindo que fosse construído próximo da estação de Água Branca.

Outros sugeriram a chácara de José Fabiano Batista na estrada velha de Campinas, à margem do rio Pacaembu. Houve até uma proposta de compra. Outros em terreno do barão de Limeira em Santa Cecília. A Câmara chegou a adquirir um terreno nos campos das Perdizes, próximo ao rio Pacaembu, que foi descartado por não estar tão distante quanto necessário do centro da cidade. A proposta aprovada foi a sua construção do novo matadouro no Rincão do Sapateiro, próximo ao ribeirão do Sapateiro, na Vila Mariana.

Em 1884 foi realizado um concurso para a escolha do projeto. Venceu o do engenheiro Alberto Kuhlmann, ficando o projeto de Ramos de Azevedo em segundo lugar.

Em 14 de abril de 1886 a Câmara Municipal comprometeu concluir as obras das novas instalações em setembro do mesmo ano e solicitou uma verba de 21 contos de réis.

Em 5 de janeiro de 1887 foi inaugurado o matadouro. Mais tarde foi construído um curtume.

A Vila Mariana já desde o ano anterior era servida por um ramal de estrada de ferro que saindo da Liberdade ia até a cidade de Santo Amaro passando pelo bairro.

O gado a ser abatido provinha do Ipiranga ou da Lapa e depois de abatido era transportado de trem até a estação de São Joaquim e daí em carroções até o tendal do largo São Paulo (construído em 1898).

Funcionou até 1927. Hoje o local restaurado é sede da Cinemateca Municipal.

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