BENIHANA, CASA DO ITAIM DÁ SHOW DE PRATOS INSOSSOS
Chefs promovem espetáculo à mesa, mas preparam comida sem gosto no Benihana
De cara, no novo Benihana --uma "steak house" japonesa, especializada em teppan (produtos na chapa)- a primeira palavra que me veio à mente foi: prestidigitação. Aquela arte de movimentos rápidos com mão para distrair a atenção dos truques de ilusionismo da outra.
Um restaurante de teppan tem chapas em que carnes (ou o que for) são rapidamente cozidas -eventualmente na presença dos comensais.
É o caso do Benihana, que acrescenta o show de prestidigitação: os chefs do teppan manejam (ou tentam) espátulas, projetam ovos para o ar, lançam saleiros no chapéu, vibram seus instrumentos para encantar a plateia.
Encantar e também criar a ilusão. Porque a comida que produzem não tem gosto. O espetáculo tem o encanto que distrai a atenção do que deveria ser essencial: a comida.
Pior é que mesmo este encanto é relativo. Alguns malabaristas precisam de mais treino (ou os proprietários precisam cobrar metade do preço -que é bem caro!- para que os clientes assistam aos treinos dos atores).
Mas o espetáculo ser sofrível (mesmo que bonito, quando os chefs acertam) é até o de menos. O problema é que a comida não tem gosto, é também só aparência.
E isso, tanto nas mesas abastecidas pela cozinha quanto naquelas com a chapa e o teatro. Camarões, vieiras, frango e filés são insossos, por mais que acrescentem a tal manteiga com alho.
Em defesa da casa, é preciso admitir que os frutos do mar têm bom cozimento (embora sem gosto); mas não é o caso das carnes -mesmo quando perguntam o ponto desejado
Talvez a falta de gosto (que tentam amenizar, sem sucesso com molhos) venha da origem do restaurante: uma rede americana com 78 casas (não exatamente um restaurante artesanal japonês). Ou porque os inúmeros sócios no Brasil são ligados a baladas ou a restaurantes de rede, não de gastronomia.
Mas a filial brasileira não sentirá um arranhão por esta crítica. Como qualquer filial de casa americana aqui, está lotada de clientes deslumbrados.
Que talvez até acreditem em outro gesto diversionista: o menu de prestidigitador, em que está escrito (em inglês! que chique!) que a carne é classificada pelas autoridades americanas, que o chef é japonês etc... O que talvez seja verdade na matriz, mas não na filial tupiniquim.
PS: é uma "japanese steak house", mas tem um balcão de sushi na entrada, que, apesar da alga molenga do temaki, tem sushis bem passáveis.
Texto de Josimar Melo publicado no caderno "Comida" da "Folha de S. Paulo" de 2 de janeiro de 2013. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
De cara, no novo Benihana --uma "steak house" japonesa, especializada em teppan (produtos na chapa)- a primeira palavra que me veio à mente foi: prestidigitação. Aquela arte de movimentos rápidos com mão para distrair a atenção dos truques de ilusionismo da outra.
Um restaurante de teppan tem chapas em que carnes (ou o que for) são rapidamente cozidas -eventualmente na presença dos comensais.
É o caso do Benihana, que acrescenta o show de prestidigitação: os chefs do teppan manejam (ou tentam) espátulas, projetam ovos para o ar, lançam saleiros no chapéu, vibram seus instrumentos para encantar a plateia.
Encantar e também criar a ilusão. Porque a comida que produzem não tem gosto. O espetáculo tem o encanto que distrai a atenção do que deveria ser essencial: a comida.
Pior é que mesmo este encanto é relativo. Alguns malabaristas precisam de mais treino (ou os proprietários precisam cobrar metade do preço -que é bem caro!- para que os clientes assistam aos treinos dos atores).
Mas o espetáculo ser sofrível (mesmo que bonito, quando os chefs acertam) é até o de menos. O problema é que a comida não tem gosto, é também só aparência.
E isso, tanto nas mesas abastecidas pela cozinha quanto naquelas com a chapa e o teatro. Camarões, vieiras, frango e filés são insossos, por mais que acrescentem a tal manteiga com alho.
Em defesa da casa, é preciso admitir que os frutos do mar têm bom cozimento (embora sem gosto); mas não é o caso das carnes -mesmo quando perguntam o ponto desejado
Talvez a falta de gosto (que tentam amenizar, sem sucesso com molhos) venha da origem do restaurante: uma rede americana com 78 casas (não exatamente um restaurante artesanal japonês). Ou porque os inúmeros sócios no Brasil são ligados a baladas ou a restaurantes de rede, não de gastronomia.
Mas a filial brasileira não sentirá um arranhão por esta crítica. Como qualquer filial de casa americana aqui, está lotada de clientes deslumbrados.
Que talvez até acreditem em outro gesto diversionista: o menu de prestidigitador, em que está escrito (em inglês! que chique!) que a carne é classificada pelas autoridades americanas, que o chef é japonês etc... O que talvez seja verdade na matriz, mas não na filial tupiniquim.
PS: é uma "japanese steak house", mas tem um balcão de sushi na entrada, que, apesar da alga molenga do temaki, tem sushis bem passáveis.
Texto de Josimar Melo publicado no caderno "Comida" da "Folha de S. Paulo" de 2 de janeiro de 2013. Adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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