CACHAÇA CONQUISTA A CULTURA DO COCKTAIL
Cachaça agora é usada em muitas outras combinações além da caipirinha.
Enquanto o Brasil se prepara para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, o seu elixir nacional, a cachaça, pode estar prestes a entrar em uma nova fase. Após uma longa campanha dos produtores da aguardente e do governo brasileiro, os Estados Unidos decidiram iniciar um processo que leve ao reconhecimento do tradicional destilado de cana como uma bebida à parte.
Assim, os fabricantes não serão mais obrigados a rotularem seu produto como “Brazilian rum”. Além disso, em maio, a Diageo, conglomerado gigante do setor de bebidas, jogou sua força internacional por trás da Ypióca, terceira maior marca de cachaça do Brasil, que foi adquirida por cerca de US$ 470 milhões.
“Acho que isso [realização da Copa e da Olimpíada no Brasil] será uma grande dádiva para a cachaça”, afirmou Martin Cate, dono do Smuggler’s Cove, um “tiki bar” (bar especializado em coquetéis, com temática tropical) em San Francisco. Mas antes, a cachaça terá de se livrar da associação com a caipirinha, que lhe rende a fama de “destilado de um drinque só”.
A moda dos “tiki bars” nos últimos anos é uma oportunidade para isso. É que a bebida se encaixa facilmente no exótico mundo dos “tikis”, encharcados de rum. No Lani Kai, no bairro novaiorquino do SoHo, Julie Reiner faz o Triângulo das Bermudas misturando cachaça com suco de limão, calamansi (pequena fruta cítrica nativa das Filipinas), leite de coco e suco de lichia.
O PKNY, em Manhattan, vende o Don Gorgon, combinando a aguardente com Aperol, suco de limão siciliano e xarope simples, e coroando a mistura com água com gás e canela ralada. O Smuggler’s Cove, por sua vez, serve uma batida de coco, cachaça e gelo picado. “A maioria dos bares de coquetéis hoje em dia tem no cardápio um coquetel de cachaça que não a caipirinha”, disse a mixologista (profissional especialista em coquetéis) Aisha Sharpe. A melhora na qualidade também contribui para ampliar a reputação da aguardente.
“Há essa percepção de que a cachaça é tipo um combustível para foguetes”, disse Steve Luttmann, fundador da marca Leblon. “Era algo meio merecido, porque as que vimos inicialmente eram mais industriais.” No Smuggler’s Cove, o coquetel El Draque usa um tipo de destilado que muitos americanos nem sabem que existe:a cachaça envelhecida. “Como a maioria dos bartenders nunca foi ao Brasil, eles não sabem do grande papel que as cachaças envelhecidas desempenham na cultura”, disse Dragos Axinte, cuja cachaça Novo Fogo é mantida por dois anos em barris antes usados em bourbons.
Isso pode mudar em breve.Matti Anttila, presidente da Cabana Cachaça, cogita lançar a partir de 2013 uma linha inédita de aguardentes envelhecidas em madeiras brasileiras. A São, marca orgânica lançada em 2011, também terá um produto envelhecido dentro de mais ou menos um ano. E a Leblon pretende lançar a sua versão em outubro. Luttmann vê a versão envelhecida, que no Brasil é tomada pura, como solução para a limitada imagem da cachaça como bebida famosa para o calor. “É como a margarita e o mojito: quando é verão, as vendas sobem.”
Texto de Robert Simonson originalmente publicado no "New York Times". Esta versão foi publicada na "Folha de S. Paulo" do dia 24 de setembro de 2012. Editado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa.
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