FEMINISMO NO BRASIL NA DÉCADA DE 1910.


Contra tudo e contra todos, ela quer ser advogada, datilógrafa, telefonista e até enfermeira na guerra.

No começo do século, praticamente as únicas mulheres que se dedicavam ao trabalho extra doméstico eram as operárias, vindas das camadas mais baixas da população.  Mas a inflação e o aumento do custo de vida, a famosa ‘carestia dos anos 10’ que motivou greves e manifestação populares, acabaram transformando também a ‘rainha do lar’ em assalariada. Mulheres da pequena classe média começam a trabalhar nas novas profissões que o  acelerado desenvolvimento urbano vai criando: surgem telefonistas, datilógrafas, secretárias, enfermeiras, balconistas. Com a Guerra Mundial, as mulheres de países como a Inglaterra e os EUA passam a substituir em larga escala os homens (que partiram para as frentes de batalha), exercendo toda uma gama de profissões urbanas.
Muitas se alistam e vão servir como enfermeiras ou mensageiras. Esse fato deu impulso ao feminismo internacional, que se refletiu no Brasil através da imprensa e do cinema. Eram muito comentados aqui os documentários cinematográficos sobre a instrução militar que recebiam as participantes da Liga Norte Americana, nos EUA, e a marcha dos batalhões de mulheres russas para a frente de batalha. Dentro desse espírito, a 'Revista Feminina' lançava o desafio: "Daqui a pouco se verá se a mulher, em coragem, resistência, moral e disciplina, vai desbancar o homem". Em novembro de 1917, Leolinda Daltro lidera uma passeata de 84 mulheres, no Rio, exigindo a extensão do voto às mulheres.
Mas os métodos de "desobediência civil" usados em Londres pelas célebres feministas Pankhurst (Emmeline e Christabel, mãe e filha) - confrontação com a polícia, manifestações de rua e greves de fome - não vingam no Brasil. Mais moderadas, as feministas brasileiras simpatizavam com as táticas legalistas da 'National American Woman's Suffrage Association', como é o caso da cientista Bertha Lutz. Em dezembro de 1918, Bertha endereça à ‘Revista da Semana’ carta em que propõe a formação de uma associação de mulheres, visando a “canalizar todos estes esforços isolados para que seu conjunto chegue a ser uma demonstração”.
Aos poucos a mulher brasileira começou a romper o monopólio masculino de algumas profissões. Em da década, a advogada Mirtes Campos foi aceita no Instituto da Ordem dos Advogados, quebrando um tabu secular e provocando uma acirrada polêmica nos meios jurídicos. E, em 1918, Rui Barbosa e Clóvis Bevilacqua aceitaram o pedido de inscrição, num concurso para a carreira diplomática do Ministério do Exterior, de Maria José de Castro Rabelo Mendes. Classificada em primeiro lugar, foi considerada pela 'Revista Feminina' como uma heroína das lutas feministas.

Texto de Edgard Luís de Barros, na pag. 110, do capítulo IV (O Sexo Frágil e o Sportsman) do livro 'Nosso Século 1910-1930', Abril Cultural, São Paulo, 1981. Digitado, ilustrado e adaptado para ser postado por Leopoldo Costa.

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