HISTÓRIA DAS MULHERES NO BRASIL





O livro é uma brilhante coletânea de ensaios organizados por Mary del Priore e Carla Bassanezi e publicado pela Editora Contexto de São Paulo (2004)

A história sempre foi contada por homens sobre outros homens, relegando a mulher a um papel secundário, com pouco destaque à  sua participação.
O livro, procura resgatar a participação feminina na história do Brasil, começando pela mulher indígena e na colonizadora, passando pela escrava, a senhora, a nobre, a pobre, a operária, a patroa, a mãe, a esposa, a bóia fria, a prostituta, a amante, a lésbica, a lavadeira, a professora e a escritora.
É baseado em documentos históricos primários, obtidos em museus, igrejas e outras fontes, para poder delinear o retrato fiel da trajetória de mulheres anônimas ou mesmo de famosas. Mulheres que contribuíram na construção da nossa nação tendo que superar toda uma série de obstáculos impostos pela sociedade machista, preconceituosa, pseudomoralista, recheada de mitos e lendas sobre o papel da mulher, muitas vezes usados como uma maneira de subjugá-las.
Nesta trajetória, percebe-se a coragem, a ousadia e a garra intrínsecas de algumas mulheres, que destacaram-se neste universo machista.
A sociedade procurava tornar as mulheres serviçais domésticas, roubando-lhes o direito ao desejo, ao prazer e a sexualidade, na intenção de imputar-lhes a culpa pelo insucesso sexual masculino, relegando-as a objetos de prazer sem direito ao mesmo. Proibiram o trabalho feminino, mas institucionalizaram a prostituição como única alternativa para a sobrevivência, para qualquer uma que cometesse um deslize. Porém, em muitos lares, a pobreza, a fome e a miséria foram combatidos com mãos que teciam, lavavam e passavam roupas para fora.
Nesta viagem histórica fascinante poderemos conhecer mulheres de fibra que não se esmoreceram, não se renderam, mas acreditaram em seu potencial e na sua força, para chegar ao Brasil de hoje como a mulher que (na maioria das vezes) tem seus direitos respeitados.



O livro "História das Mulheres no Brasil" traz relatos que, às vezes prosaicos, revelam muito sobre a relação da sociedade brasileira com o feminino desde os tempos coloniais. Confira:

* Entre o século XVI e o início do XIX, a Igreja Católica considerava que os homens representavam Cristo nos lares. E que as mulheres tinham de pagar o pecado da primeira fêmea, Eva. Precisavam, portanto, usar roupas pudicas, enfeitar-se com modéstia e conservar o silêncio.

* Durante o mesmo período, acreditava-se que houvera uma falha na fabricação da mulher que a fêmea nascera de uma costela masculina recurvada, "cuja curvatura era contrária à retidão do homem".

* Os padres do Brasil colonial encaravam como pecado todas as variações do coito, salvo a posição papai-e-mamãe. Por tabela, perseguiam as mulheres que "amavam lascivamente". Muitos, porém, acabavam mantendo relações sexuais com as pecadoras, a quem "solicitavam em confissão".

* Por volta de 1720, o médico Braz Luiz Abreu costumava olhar mulheres doentes como vítimas "das insolências ou de banhos do demônio". E lhes receitava remédios que continham a cabeça degolada de um cão preto, torrada e moída em pó fino.

* Sob a ótica da medicina do século XVIII o corpo feminino exibia "ossos mais frágeis que os dos homens, sangue mais aguado e falta de calor natural". Servia exclusivamente para "engendrar a conservação do gênero humano". Não possuía, entretanto, nenhum papel na fecundação. Cabia-lhe apenas portar o feto que o sêmen masculino produzia sozinho.

* Conforme os médicos de então, o corpo feminino podia gerar aberrações. Tratados científicos mencionavam mulheres que "deram à luz serpentes, lagartos e monstros com cornos e dentes no rabo".

* Em 1736, ninguém estranhou quando uma certa Tomásia, da Bahia, fez feitiços utilizando "cabelos das partes venéreas femininas e matéria seminal de cópulas". No fim do século XIX e começo do XX, mulheres internadas em hospícios recebiam diagnósticos do tipo: "Forte tendência à infidelidade conjugal dias antes da menstruação". Os tratamentos "para o controle de sexualidades inconvencionais" incluíam a extirpação do clitóris e a introdução de gelo na vagina.

Veja também: Viagem pelo Imaginário do Interior Feminino de Mary del Priore

Baseado em matéria publicada no jornal 'Folha de S. Paulo' reescrita, adaptada e ilustrada por Leopoldo Costa.

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