ESTUDO SOBRE O CONSUMO DE CARNE
Leopoldo Costa
Na década de 1970 o consumo médio mundial de carnes em geral foi de 127 milhões de toneladas, assim distribuído[1]:
· Carne bovina 43 milhões de toneladas
· Carne suína 44 milhões de toneladas
· Carne de aves 21 milhões de toneladas
· Carne ovina 7 milhões de toneladas
· Outras carnes 12 milhões de toneladas
A população média do Mundo era de 4,1 bilhões de habitantes, portanto o consumo de carnes representava uma média de 31 kg per capita por ano.
Na década de 1980 o consumo médio mundial de carnes em geral foi de 160 milhões de toneladas, assim distribuído[2]:
· Carne bovina 55 milhões de toneladas
· Carne suína 54 milhões de toneladas
· Carne de aves 28 milhões de toneladas
· Carne ovina 9 milhões de toneladas
· Outras carnes 14 milhões de toneladas
A população média do Mundo era de 4,8 bilhões de habitantes, portanto o consumo de carnes representava uma média de 33 kg per capita por ano.
Na primeira década deste século o consumo médio mundial de carnes em geral foi de 257,6 milhões de toneladas, assim distribuído[3]:
· Carne bovina 59,5 milhões de toneladas
· Carne suína 98,4 milhões de toneladas
· Carne de aves 79,9 milhões de toneladas
· Carne ovina 7,9 milhões de toneladas
· Carne caprina 4,5 milhões de toneladas
· Carne eqüina 0,8 milhões de toneladas
· Carne bubalina 3,0 milhões de toneladas
· Outras carnes 3,6 milhões de toneladas
Observou-se um crescimento maior do consumo das carnes suína e de aves, bem acima do crescimento da população. O da carne suína foi o dobro e o da carne de aves o quádruplo. O crescimento de consumo da carne bovina foi 20% menor do que o crescimento da população.
A população média mundial era de 6,5 bilhões de habitantes, portanto o consumo de carnes representava uma média de 40 kg per capita por ano. Um crescimento de 29% em quatro décadas.
Cinco fatores podem influenciar no consumo de carne:
· Efeito demográfico Crescimento populacional
· Efeito histórico Hábitos alimentares
· Efeito econômico Renda da população e preço da carne
· Efeito psicossociológico Imagem da carne como alimento
· Efeito científico Valor nutricional
A carne é a proteína mais cara e por isso a quantidade consumida tem estreita relação com a renda per capita da população.
O Japão é um bom exemplo: Em 1970, quando a renda per capita era de US$ 2.250 o consumo de carnes era de cerca de 20 kg per capita/ano. Em 2010 quando a renda per capita subiu para US$ 33.804, o consumo de carnes subiu para 46,13 kg per capita/ano.
Na tab. 1, comparamos a renda per capita e o consumo anual de carnes dos dez países mais pobres do mundo. Todos são da África. Pode ser observado que a renda média do grupo é menor que US$ 300 per capita/ano e o consumo médio de menos de 10 kg per capita/ano.
Na tab.2 fizemos o mesmo exercício com os dez países de maior renda. Todos são da Europa. A renda média do grupo é acima de US$ 65.000 per capita/ano e o consumo médio de carnes acima de 90 kg per capita/ano.
Tab. 1. Renda per capita e consumo de carnes dos países mais pobres do Mundo
Renda per capita US$ | Consumo per capita kg/ano | |
Burundi | 144 | 5,03 |
República Dem. do Congo | 180 | 4,61 |
Libéria | 229 | 9,81 |
Guiné-Bissau | 273 | 14,27 |
Malaui | 299 | 5,90 |
Etiópia | 328 | 8,32 |
Eritréia | 331 | 6,65 |
Serra Leoa | 351 | 7,46 |
Niger | 365 | 23,95 |
Guiné | 434 | 8,27 |
Fontes: Renda per capita: Banco Mundial 2009 | ||
Consumo de carnes: chartsbin.com 2010 |
Tab. 2. Renda per capita e consumo de carnes dos países mais ricos do Mundo
Renda per capita US$ | Consumo per capita kg/ano | |
Luxemburgo | 111.182 | 136,73 |
Noruega | 94.359 | 65,42 |
Suiça | 64.011 | 73,68 |
Irlanda | 63,178 | 92,73 |
Dinamarca | 62,327 | 98,20 |
Islândia | 52,549 | 93,29 |
Holanda | 52,322 | 71,26 |
Suécia | 52,057 | 78,68 |
Finlândia | 51.060 | 72,53 |
Áustria | 49.902 | 103,18 |
Fontes: Renda per capita: Banco Mundial 2009 | ||
Consumo de carnes: chartsbin.com 2010 |
Existe uma relação entre a quantidade de consumo de cada tipo de carne e seu preço relativo. O consumidor dispondo de recurso limitado para comprar carne, optará por aquela que tiver maior custo-benefício. O crescimento de consumo da carne de frango no Brasil foi motivado pelo preço. Antes da introdução da avicultura industrial o preço da carne de frango era semelhante ou até mais caro do que o das outras carnes. Em 1990 o consumo era de 14 kg per capita/ano e em 2010 alcançou 43 kg per capita/ano. Por ser a carne mais barata o consumo mundial, segundo estatísticas do USDA que era de apenas 2 kg em 1970 saltou para 10 kg em 2005.
Dizem que o homem é programado para matar, assim em todos os povos, caçar e abater animais para obter carne faz parte da história. O ato de consumir carne continua retendo esta poderosa conotação simbólica. Desde os primórdios, as religiões procuram reprimir este instinto feral, Impondo regras e proibições. Os católicos têm os seus dias de abstinência de carne. Aos praticantes do Judaísmo e do Islamismo são impostos dias de jejum e proibição de comer diversos tipos de carnes, destacando-se a carne suína. Os hinduístas não consomem carne bovina e os budistas não consomem carne de nenhuma espécie. O Budismo e o Hinduísmo estão ganhando seguidores entre os ocidentais, atraídos pelo seu exotismo e estes evitam o consumo de proteína animal.
O ser humano interage com a sociedade em que vive e assim os hábitos alimentares são semelhantes entre ele e o seu grupo. O ato de se alimentar não é apenas a busca de nutrição, é também um gesto subjetivo de conviver em sociedade. Convidar alguém para jantar é um ato universal de estreitar a convivência social.
As tradições. regionais ou de cada grupo social inferem no hábito de consumo e de escolha do tipo de carne. Cada uma delas tem imagem diferenciada. Na Inglaterra a carne ovina tem imagem negativa para grande parte da população por ter sido a carne que os operários e camadas mais pobres da população podiam consumir durante longo período. Era mais barata e abundante. Na França, porém a carne ovina tem imagem positiva, sendo considerada uma sofisticada iguaria.
A carne de frango não era consumida na Alemanha antes de 1960 e tradicionalmente não tem a preferência da maioria da população, apesar de ser barata. Os alemães são grandes apreciadores da carne suína, ocupando o quarto lugar entre os países de maior consumo no mundo, com quase 60 kg per capita/ano. O consumo de frango é de apenas 15 kg per capita/ano. Na França, desde os tempos de Henrique IV (1553-1610) a carne de frango tem imagem positiva e o consumo per capita, está crescendo e hoje é acima de 25 kg por habitante/ ano.
Costumes e perfil de renda fazem com que cada classe da sociedade defina suas preferências. Na França a carne equina e de coelho é habitualmente consumida pelas classes trabalhadoras. Nos Estados Unidos a carne ovina é a de maior consumo entre os grupos étnicos de origem latina, por ser mais barata do que a bovina.
As preferências pelo consumo de certas espécies de carne também podem variar por região geográfica. Nas Américas é predominante o consumo de carne bovina. Na Oceania, Oriente Médio e na África do Sul sustenta-se uma combinação de carne bovina e carne ovina. Na Europa é usual o consumo de carne bovina e carne suína e no Extremo Oriente consome-se normalmente carne suína e carne de frango.
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