O COMETA BIELA E O FIM DO MUNDO

Leopoldo Costa

A passagem de cometas na cultura popular de diversos povos proporciona maus augúrios, anuncia catástrofes e  prenuncia acontecimentos nefastos para a Humanidade. O cometa de Halley, que tem um ciclo de 76 anos,  é o mais famoso dos cometas, sendo o primeiro a ser reconhecido como periódico por Edmond Halley (1656-1742) que previu sua aparição para 1758. Foi registrada a sua primeira aparição em 240 a.C e foi sempre visível a olho nu nas suas 30 aparições registradas até hoje.

Nostradamus (1503-1566) escreveu sobre os cometas nas suas 'Professias':

Quadra 2:41
A grande estrela brilhará por sete dias
e a nuvem fará o sol parecer duplo
O grande mastim uivará a noite inteira
quando o grande pontífice mudará de residência

Quadra 2:43
Na presença do astro de cabeleira,
os três grandes príncipes se tornarão inimigos
A trêmula paz da terra será golpeada dos céus
O rio do Pó, o tortuoso Tibre (Roma)
uma serpente posta no litoral

Quadra 2:62
Mabus morrerá em breve
e haverá a destruição de gente e de animais
Subitamente se revelará uma vingança
uma centena de mão, sede e fome, quando o cometa passar

Quadra 6:06
Ele aparecerá na direção do Norte,
não longe do astro de cabeleira de Câncer
Susa, Siena, Boetia, Eretria,
o grande homem de Roma morrerá na noite dispersa

Para quem acredita em Astrologia os cometas podem-se originar de três diferentes lugares do Sistema Solar:
1. Das proximidades de Júpiter.
2. Do Cinturão de Kuiper (órbita de Netuno).
3. Da Nuvem de Oort nos limites do Sistema Solar

Os cometas originários do primeiro local, têm periodicidade curtas de poucos anos. Trazem a influência astrológica de Júpiter,  que pode alterar princípios religiosos, econômicos e políticos.
Os originários do Cinturão de Kuiper trazem as influências combinadas de Urano, Netuno e Plutão, que seriam responsáveis por alterações político-militares e espirituais. Têm periodicidade entre algumas décadas até 200 anos.

Os que procedem da Nebulosa de Oort são mensageiros das 'estrelas fixas' que representam as divindades celestes e implicam em mudanças radicais no mundo.Têm peiodicidade de mais de 200 anos, podendo atingir milhares de anos.

O cometa Biela fez parte dos influenciados por Júpiter.

Na segunda década do século XIX eram conhecidos três cometas períódicos, o Halley, o Encke e o Biela. O Biela foi descoberto em 8 de março de 1772 por Jacques Laibets-Montaigne (1716-1788) porém, ainda não era visível a olho nu. Uma semana depois, no dia 15 de março, foi observado por Charles Joseph Messier (1730-1817) considerado por muitos como o seu descobridor. No dia  8 de dezembro quando ficou mais próximo da terra, sendo possível ser observado sem instrumentos.

O astrônomo alemão Friedrich Bessel (1784-1846), estudando o seu movimento, previu o retorno em 1826. O nome do cometa deve-se ao militar e astronomo austríaco Wilhelm von Biela (1782-1856) que registrou a sua aparição em 27 de fevereiro de 1826 calculando sua periodicidade em 6,6 anos.

Em 1839, não foi possível ser observado, pois passou muito próximo do Sol.

O astrônomo italiano Francesco de Vico (1805-1845) e o alemão Johann Galle (1812-1910) registraram a sua quinta aparição em 26 de novembro de 1845, respectivamente em Roma e Berlim. Cinco dias depois o cometa já estava com um aparência alongada e quinze dias mais tarde fragmentou-se em duas partes. Em 1852, o padre e astrônomo italiano Angelo Secchi (1818-1878) observou as duas partes que estavam separados pela distância de mais de 2.4 milhões de quilômetros e depois nunca mais foi visto. Em 27 de novembro de 1872 os fragmentos transformaram-se numa belíssima chuva de 3.000 estrelas cadentes por hora.

O cometa Biela foi considerado como responsável por alguns impactos de meteoritos na terra. Segundo algumas fontes, o grande incêndio de Chicago (que outra lenda considera como culpada a vaca da Sra. O' Leary que derrubou um lampião enquanto estava sendo ordenhada), teria sido causado por fragmentos incandescentes do  que tinha restado do cometa Biela. Em 27 de novembro de 1885 um meteorito caiu  no norte do México, acompanhado por uma chuva de mais de 15.000 meteoros por  hora.

A origem da grande populariedade do Biela começou com a previsão do professor de Geologia e Matemática alemão Rudolph Falb, que profetizou o fim do mundo para a noite de 13 para 14 de novembro de 1899, quando um gigantesco cometa envolveria a terra com a sua cauda flamejante. Seus gases fariam que a atmosfera se incendiasse, provocanda a queda de milhões de meteoritos incandescentes. Estas 'profecias' causaram uma apreensão inacreditável que ficou na memória coletiva, principalmente do povo nordestino. As igrejas lotavam e a religiosidade manifestava-se de várias formas, pois a população queria estar preparada para enfrentar o julgamento de Deus.

Segundo um artigo do astrônomo Ronaldo de Freitas Mourão, publicado no jornal 'Folha de S. Paulo' em 1997, no sertão do Ceará os cantadores de cordel produziram os seguintes versos alusivos ao cometa Biela:
"Em 13 de novembro
O dia determinado
pela profecia do dr. Falb
Ia o mundo acabar...
O boato corre, corre
Com ardor e a prevenir
Que não tarda o cataclisma
Para a terra demolir!
Mas os garotos a trocaram
Qua...Qua...Qua...Qua...
E os velhos a se lamentarem
Qua...Qua...Qua...Qua...
E as beatas a rezarem
Qua...Qua...Qua...Qua..."

Os jornais sensacionalistas do Rio de Janeiro deram publicidade para as profecias do Dr. Falb e alarmaram a população. Em Jundiaí (SP), uma mulher desesperada suicidou-se pulando no poço. Em Santa Rosa (RS) quatro mulheres ficaram loucas e vagavam pelas ruas sem rumo. Em Santos (SP) uma beata morreu inexplicavelmente quando saia da igreja. Em outras partes do Brasil foram registrados outros curiosos acontecimentos.

O astrônomo brasileiro de origem belga Luiz Cruls (1848-1908) do Observatório Nacional do Rio de Janeiro manifestou-se que o Dr. Falb estava equivocado e que tudo estaria normal, apenas haveria  a possibilidade da ocorrência de uma formidável  'chuva de estrelas'. Estas declarações publicadas nos jornais, levou muitas pessoas às praias para admirar o espetáculo. Não ocorreu. O que aconteceu foi uma grande tempestade com raios e trovoadas que nada tinha a ver com o cometa.
Olavo Bilac publicou uma crônica irônica no jornal 'Gazeta de Notícias' também alusiva ao acontecimento:

"Venham estrelas, estrelas,
Caiam nas ruas, nas salas,
Que Deus não possa contê-las
Que ninguém possa contá-las.
Grandes, pequenas, vermelhas,
Azuis, verdes, amarelas,
Não escapem duas telhas
Contanto que venham elas.
Veremos que belo jogo,
É este milagre da uva:
Quando o céu abrir em fogo,
Lá vêm os astros em chuva.
Chuva no céu e na terra,
Que solene bebedeira!
Os deuses fazendo guerra
Aos devotos da parreira.
Que foi aquilo! Que tombo
Levou agora um borracho!
Quebrou-lhe uma estrela o lombo,
E uma outra já estava embaixo".

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